sábado, 25 de dezembro de 2010

Viagem de ônibus


Detestava ônibus. O corredor de um ônibus é um palanque onde os que estão julgam os que entram e vice-versa. Cada passageiro é visto e avaliado por todos os outros passageiros. Podem nos olhar pelas costas. Podem nos ver dormindo. Somos julgados com a rapidez de um piscar de olhos e não podemos nos defender quanto a isso.

Preferia sentar nas poltronas do meio. Na frente, se é o primeiro a ser visto por todos que entrarem, nos fundos, terá que caminhar mais e ficar próximo ao banheiro, mas é melhor para se dormir. As estatísticas comprovam que a maior parte dos desastres com ônibus atingem a frente ou a traseira do veículo, no meio se está mais seguro, de preferência do lado do motorista. Em uma colisão o motorista vai instintivamente jogar o lado oposto do ônibus e proteger o próprio lado. Pelo menos era assim que pensava.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Desejos e sonhos


 (Imagem: Duas Mulheres em Silêncio, Marcília Mourão)


Os meus sentimentos represavam todos aqui por dentro,  minando com mesquinharia para fora; os dela pareciam se derramar para o exterior  de uma maneira bela e incontrolável.

Se eu estivesse perdida como ela, estaria angustiada. Sabendo para onde eu devia ir naquele momento e conhecendo o itinerário a seguir já era angustiante. Angústia da certeza de que todos os dias havia o mesmo caminho a ser repetido, com as mesmas curvas e retas. A verdade é que eu não tinha certeza se eu era dona da minha vontade e das minhas escolhas ou se elas haviam sido implantadas lá; se existia alguma Lei Superior que controlava o meu destino ou as escolhas eram legítimas.

domingo, 28 de novembro de 2010

O último cliente da manhã



- Quanto?
- Cinquenta.
- Cinquenta é muito pouco.
- É o que eu posso oferecer.

O velho se cala. Olha para o baralho à sua frente como se fosse um filho pequeno que ele estivesse ali oferecendo.

sábado, 27 de novembro de 2010

O adorno das damas




“Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma.” (*) Foi o que Franco pensou pela demora da moça em provar duas ou três mudas de roupa. È uma regra com raras exceções, a mulher nutre por sua imagem uma paixão narcísica, quase incestuosa. Dê um espelho a um homem e ele gasta um minuto para checar se não está nada fora do lugar. Dê um espelho a uma mulher e ela fica hipnotizada com a própria imagem, faz poses, namora o corpo com dedicação paranóica.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Despertar do duvidar




Aquelas almofadas serviram divinamente ao meu sono, despertei descansada, sem dor nenhuma pelo corpo. Até me apalpei um pouco para ter certeza de que o corpo não estava insensível ao toque e à dor.

- Aparentemente tudo no lugar. – Ponderei, dando um soco leve no joelho e rindo da resposta reflexa da perna.

- Exceto por esta coceira besta.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A mola que move o mundo



Um dia, eu acordei, peguei um ônibus, entrei em um laboratório, recebi um envelope com o resultado de um exame e o guardei na bolsa. Na rua, não contive a curiosidade, entre uma esquina e outra rasguei o lacre e espiei o conteúdo.

 A maioria dos acontecimentos em nossa vida desaba sobre nossas cabeças, sem nos deixar saída. Destes desabamentos somos vítimas ou premiados. Ser vítima é mais simples, não exige nada por retribuição. A dádiva é mais complicada, não é uma conquista, é um presente que recebemos por razões além do nosso merecimento e esforço, exige responsabilidade.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Desejo de inconsciência




Inconsciência. Era tudo o que podia desejar. Desejava que  sua mente fosse capaz de racionalizar e fazer enxergar apenas o que fosse mais seguro para si. Desejava que  o sentimento de culpa fosse mascarado em outra coisa que  fizesse esquecer a existência da culpa. E principalmente, desejava ser capaz de justificar as ações sem a consciência de que elas eram uma tentativa de  se fazer sentir melhor consigo. 

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Além da morte dos amados



 
 


“Muitas sombras de gente já falecida ocupam-se somente em lamber as ondas do rio dos mortos, porque ele se origina de nós e conserva o gosto salgado de nossos mares. Então o rio, tomado de nojo, cria uma corrente contrária e empurra os mortos novamente à vida. Daí eles ficam felizes, entoam canções de agradecimento e acariciam o rio rebelde.”
Franz Kafka, Aforismos
 
- O que levamos desta vida para a próxima? Ouro? Roupas? Títulos do Tesouro? Acaso levamos as flores que recebemos quando aniversariamos? Vão conosco as cartas de amor que recebemos dos admiradores? Os brinquedos que nossos pais compravam? Ou será que vão as mágoas, as lágrimas escorridas, as derrotas? Vão as rugas? Vão os cabelos brancos? Vão as varizes?

Até a próxima, querido



Fátima encontra Sílvio de pé dentro da casa. Fica em dúvida se ele estava preocupado com seu bem estar ou se havia perdido o sono. Não fazia diferença, a noite já partia e um novo dia chegava. Junto com o novo dia chegava o momento da partida. 

Na cozinha, fritando os ovos com bacon, Fátima observa a cumplicidade entre o homem e o cão. Os dois pareciam dar-se muito bem, numa amizade que a deixou enciumada. Difícil competir com tanto companheirismo. Os três se posicionam na mesa do café, e Sílvio parece reticente, desanimado, aparenta mesmo estar fingindo serenidade, como se escondesse algo que a pudesse magoar.

Entrevista de emprego


Precisou esperar um pouco mais além do previsto para ser atendida, mas estava decidida a não sair dali sem conversar com algum funcionário do Bar. Sissi não gostava de voltar atrás em suas decisões ou desistir no meio de seus planos. Ela acreditava em seus instintos. Na manhã anterior, ao ler os classificados do jornal, no exato momento em que passava os olhos sobre o anúncio da Srta. Hole teve certeza que aquele anúncio havia sido colocado ali para ela. Podia não ser contratada, mas alguma coisa de importante devia estar envolvida naquela ida até ali. A espera tranqüila não era resultado de excesso de confiança ou paciência, Sissi apenas agarrava-se na esperança de não ter feito aquela investida em vão. 

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O punhal no escuro


K. entrou no quarto com a intenção de tratar aquele homem de igual para igual, iria rebaixar-se a oportunizar que o homenzinho infeliz lhe fosse útil. Sabia que Mirael prestava serviços àquele parque durante um longo tempo, sabia também que tratava-se de um sujeito perigoso, devido a sua reclusão. Homens solitários são capazes de qualquer fraqueza. K. era capaz de conviver entre as pessoas, cativá-las e rir de suas trivialidades. Somente o tempo que suportava manter esta farsa era curto, vencido o prazo de tolerância, procurava locais mais silenciosos. Contra sua vontade, voltava a sentir falta de convívio e a mesma humanidade que impulsionava a reclusão impulsionava também que procurasse alguma convivência. As pessoas lhe pareciam geralmente insuportáveis, intrometidas em opinar a vida alheia, fingir condescendências, continuavam mesmo assim a serem os únicos animais dotados de inteligência e fala sobre a Terra. Suportar era imprescindível.

domingo, 14 de novembro de 2010

Carcará



Depois de alguns dias ouvindo, lendo e refletindo sobre a Operação 'Carcará' realizada pela Polícia Federal na Bahia cheguei a conclusão, entre outras coisas, que acontecimentos como estes, a princípio, animam a quem está cansado da impunidade e desmandos com as verbas públicas, mas desanimam a quem continua a acompanhar o desenrolar do caso. Aquilo de sempre? gente que se safa, gente que é acusada e humilhada sem provas o suficiente, jornalista inventando fato, advogado picareta fazendo milagre, e outras e outras patacoadas que só nos fazem desacreditar da eficiência da nossa justiça.

Por exorcismo, eu ouço o Chico, e aguardo a próxima invernada neste meu sertão.

sábado, 6 de novembro de 2010

Dia do Nordeste



Nossa família retornou ao Nordeste em 1995. Era um sonho antigo alimentado por minha mãe e minha avó. Vó Maria é de Itororó, minha mãe de Cândido Sales, aqui na Bahia. Nossos tios e nossa mãe foram para São Paulo em 1975 porque aqui não possuíam nada, nem terra, nem casa, nem escola, nem raiz. Em São Paulo estudaram mais um pouco, um tantinho só, o que estudou mais terminou o ensino fundamental. Trabalharam muito, receberam não tão muito. Perdemos um tio para a violência paulistana, outro permanece lá, vinte e cinco anos de trabalho e vivendo ainda de aluguel. Mas minha vó e minha mãe desejavam voltar. Voltamos.

Apesar de terem morado lá durante vinte anos, a família nunca deixou de ser nordestina. Pais, tios, vizinhos, ao nosso redor sempre tiveram pernambucanos, paraibanos, baianos, cearenses, ‘nortistas’ no dizer geral. E a gente cresceu assim, ouvindo que baiano é preguiçoso, pernambucano é briguento, paraibana é mulher-macho, cearense é cabra perigoso, os paulistinhas eram metidos a bestas, carioca malandro, mineiro cabreiro. Mas de paulistas no meio, só as crianças.

sábado, 30 de outubro de 2010

O medo guardado nas entranhas


Em nenhum lugar Sissi jamais encontrou segurança. Desde pequena conseguia ouvir os ruídos ameaçadores das árvores e suas sombras em formas de garras e mãos. De qualquer sombra  saltava um espanto, boca escancarada para devorar. Sozinha, sofria o desamparo. Acompanhada, sofria a exposição. Uma multidão mostrava-se tão perigosa quanto um deserto. Não existia paz em parte alguma, por onde quer que andasse, o medo a acompanhava guardado nas entranhas, aguardando um momento de vulnerabilidade para escorrer para fora e atacar.

Precisava ocupar a mente e as mãos, desligar-se daquela natureza sensível às mudanças da lua, que enxergava maus presságios em todas as partes.
Se ela gostaria de se sentir segura? Não havia nada que desejasse mais na vida. 

Sissi não temia as pessoas por qualquer razão, temia por saber que as outras pessoas também hospedavam a mandíbula perfurante do medo dentro de suas almas, umas a liberavam em ocasiões comuns a todos, outras, como Sissi, não possuíam controle, deixavam-se dominar e enfraquecer, faziam-se instrumento de uma força muito superior à compreensão, perigosas em seus extremos de covardia. Os covardes estão sujeitos a atos desesperados e impensáveis aos que possuem alguma coragem. Toda a sua energia concentrada em não sucumbir às próprias fraquezas, precisava de um exterior que lhe passasse o mínimo de elementos para resguardar algum auto-controle. Trancas grandes nas portas, cercas elétricas, alarmes, morar em um bairro com um bom patrulhamento policial, pagar um seguro de saúde excelente, andar com spray de pimenta na bolsa, qualquer subterfúgio que ajudasse a criar uma imagem de segurança. Imagem, porque seguros nós nunca estamos. 

Dois perdidos na escuridão


- Sim, estou perdido. Eu acho.

A resposta do homem escondido no escuro tranqüilizou Sissi, em um primeiro momento. Estava ele perdido,  estava ela também, ele não estava bem certo de seu desnorteio, tampouco certeza ela tinha. Sissi havia nascido e se criado naquelas redondezas, lembrava de haver brincado perto daquelas ruínas em seus tempos de criança, correra para casa chorando quando os irmãos a empurraram porta adentro e a abandonaram sozinha naquele pedaço desdito de chão. Havia chorado porque não suportava ficar só, pior estar só em um lugar que não se conhecia, sendo criança e chorona o pior foi triplicado. Naquele dia não foi difícil encontrar o caminho de casa, quase uma grande linha reta com uma curva suave para o norte atravessando dúzias de quintais sem muros, por entre os pomares que  pertenciam a ninguém e a todos. Um tempo límpido, em que bastava sentir medo de coisas simples e concretas. O escuro, o cachorro, a tia velha, o ladrão de crianças, as serpentes, os medos todos nomeados e figurados, em letras grandes sobre seus rótulos os antídotos. 

Hoje o que a perseguia não tinha rosto ou forma, sem nome ou paradeiro, ocupava todo o espaço vazio entre os objetos. Sinta medo de uma coisa concreta e o caminho para escapar está aberto: enfrentar, destruir, anular. Acenda a luz e acaba a escuridão, aniquile todas as serpentes, expulse todos os cães, proíba a tia de fazer visitas e redobre o patrulhamento das ruas. Contra o desconhecido não existem defesas.

Coletivos

Os dois primeiros coletivos se recusaram a parar no ponto em que a figura coberta por sujeira estava em pé, gesticulava com estardalhaço para chamar a atenção. O terceiro freou de brusco para evitar o choque com a mulher de cabelos esvoaçantes que aguardava no meio da rua com a palma da mão direita erguida. Quando arrancou do bolso interno do casaco as moedas para pagar as passagens o cobrador desatou a chorar como uma criança de creche. Saltou a roleta, então. O homem chorava demais para discernir o troco. Sentou no meio do ônibus e escorou a cabeça no vidro lateral, para observar os letreiros luminosos, que já iam se apagando àquela hora da madrugada, porém se mantinham brilhantes e sedutores com seu piscar solitário. Até alcançar o bairro do Asilo e se deparar com os estragos causados pelas explosões da turba em fuga. 

domingo, 19 de setembro de 2010

Super Nova (ou Embromações Astronômicas)


O tempo se arrastou maçante e sem sons, naqueles poucos segundos que demoram milênios para passar. A luz do poste piscou e o mundo virou um breu. Minha cabeça parou de funcionar como máquina de nomear os objetos e só restou o corpo, massa cujas reentrâncias latejavam de dores desconhecidas. Era calor ou frio que eu estava sentindo? Senti o meu umbigo atrair todas as extremidades para o núcleo de meu ventre, as extremidades esticavam e resistiam ao centro de atração e a minha dor devia ter origem justamente nesta resistência elástica de minhas fibras em se tornarem um só com meu umbigo. Era como se o mundo inteiro estivesse em mim! A resistência de minhas fibras foi vencida e todo o meu ser coube no diâmetro do meu centro umbilical formando em seu núcleo uma imensa nuvem dos gases que compõem o Universo. Meu umbigo se tornou um ponto nebuloso, onde a força gravitacional passou a agir violentamente, contraindo os gases e aumentando a temperatura. Todas as minhas idéias partidas foram liquidificadas e permaneceram em suspensão, até que a temperatura subiu a um grau insuportável de concentração e ocorreu a explosão. Essa grande explosão ocorreu em uma fração de segundos e a partir dela o meu ser contraído aos limites da matéria subatômica voltou a se expandir, inflando para longe tudo ao redor. Primeiro a anti matéria foi sugada, e junto com ela eu pude partilhar da dor e do sofrimento dos seres ao meu redor – a confusão, o medo, a raiva, o desespero – depois foi repelida e eu passei a irradiar a minha essência para muito além de minha órbita. Éramos todos um só dentro do universo.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Grinalda e Mortalha se talham no Céu ou A religião do amor em Franco

A religião do amor é ingrata. É ver como sofre quem ama demais. Qual recompensa Franco encontrara em amar as mulheres ignorando até mesmo os defeitos mais inegáveis? Amou Liz, enxotada por outro homem, largada na rua descalça. Amou Sarah, doente da cabeça e do coração, triste menina que se esqueceria dele no dia seguinte. Amou Georgiana, sedenta por nada além de uma noite de aventura. Amou Jessica, anjo demônio que o surrara porque Franco lhe sorrira.

Animais vaidosos e sem sentimentos são as mulheres. Damos a elas ouro e elas querem o céu. Damos a nossa atenção e elas querem o nosso fígado. Desprezam-nos, maltratam-nos, desfazem-se de todos os nossos presentes. Amamos a elas, mulheres, como se fossem rainhas, sabendo que não são. São ordinariamente da mesma matéria que os homens, compensam o ordinário somente com a anatomia perfeita aos nossos desejos. Só o que Franco precisava era de uma mulher que não tivesse medo de sê-lo, não se achasse especial demais nem se menosprezasse demais. Uma mulher que não julgasse ser favor conceder palavra, não se melindrasse com elogio. Desgraça! Não podia deixar de amá-las, porque amava inclusive os defeitos. Amaria as leprosas se restassem somente elas sobre a Terra, amaria feias, sem graças, mendigas. As mulheres eram seu fraco. Se existe um céu a mulher é o inferno.

A religião do dinheiro, esta sim nunca falha. Trabalhar e acumular, infalível recompensa. Ajuntar, investir, fazer render, multiplicar e distribuir. O dinheiro, sem falta, compra tudo o que possui preço e facilita as demais necessidades. Com dinheiro se é mais bonito, mais inteligente, mais bem vestido, mais perfumado. Dispensa diálogo, dispensa oração. Concede sempre a troca justa, barganha perfeita. Não falta a quem não desperdice. Dinheiro não sofre dor de cabeça. Não se irrita, não se esconde na casa da mãe. E o principal, dinheiro não chora, não menstrua, não pede sem dar em troca.

Era isto, Franco deixaria de lado as mulheres por um tempo, ou melhor, manteria o regime de consultar apenas às velhas conhecidas, poderia assim trabalhar. Trabalho e dinheiro eram, definitivamente, passatempos dignos.

***


- O senhor é discreto?
- Um túmulo, minha senhora.
- Ótimo, estou necessitada de sigilo.
- O que a senhora tem aí?
- É a minha mortalha.
- Como é?
- Mortalha. Os panos com que se vestem os mortos para o sepultamento.
- Eu sei o que é uma mortalha, dona. Mas a senhora vai colocar no prego uma mortalha?
- É a precisão. Quanto o senhor me dá?
- De quanto a senhora precisa?
- Quinhentos.
- É muito!
- É para a grinalda da minha filha! Eu costuro, eu bordo, já comprei o tecido, mas falta a grinalda e o brocado. É a minha única filha!
- Ninguém liga mais para essas coisas, dona. Case a moça de qualquer jeito. Se a senhora não pagar, o que eu vou fazer com essa mortalha?
- Todo mundo vai precisar de mortalha um dia! Não me falte nessa hora, meu senhor!

Franco pensou um pouco.

- Ok, eu aceito o empenho. Mas tem uma condição.
- Qual?
- Eu apadrinho o casamento da tua moça.
- Será uma honra!

Franco adorava casamentos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Fabuleta cruel ou O primeiro verso para vos apresentar o terreno que comprei no céu

A velha gorda e mentirosa que falava mal de todos no seu caminho ficou com a língua roxa e morreu.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Flash de melancolia


"Fixou os olhos tristes no conteúdo da taça que lhe foi entregue. O cintilar da luz no líquido encarnado a fez recordar de momentos nostálgicos. Tempo no qual possuía crenças e esperanças, concedia ao universo o benefício da dúvida e confiava na chegada de uma vida melhor. Passado esse tempo veio um outro, vertiginosa queda rumo a um abismo de desmentidos e desilusões, o fim de todas as esperanças, o despertar para uma nova existência sem sonhos. (...)"

sábado, 7 de agosto de 2010

RECEITA PARA CHORAR SEM QUERER

Concentre seu pensamento em uma família de refugiados dos Bálcãs fugindo em fila indiana por um deserto cheio de minas terrestres. As crianças rosadas sorriem inocentes nas costas de suas mães, as mães choram, os homens correm. Um velho carrega o seu cachorro morto. Todos chegam ao outro lado inteiros e o que os separa da salvação é uma cerca: eles saltam sobre a cerca e morrem eletrocutados.

CONSEGUIU CHORAR?



(Inspirado por uma mistura das maluquices do Ignácio de Loyola em Zero e pelo humor do Millôr Fernandes em seus contos curtos.)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Perdões

Perdoa
as palavras não ditas
as razões não ouvidas
as frases vazias

Perdoa
a ausência de gestos
os silêncios
os protestos
a incompreensão

Perdoa
a intolerância
a indiferença
a constante dissonância de idéias

Tenta desculpar por eu não rir das tuas piadas

Ignore as minhas preferências singulares
Ignore o meu ar de quem já sabe o fim da história antes do princípio
Ignore as coisas que você gostaria que fizéssemos juntos mas jamais faremos

Esquece os bilhetes que não escrevi, os sapatos que não lustrei, os carros em miniatura que te proibi de comprar.

Aceita as minhas imperfeições.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Maqueteiros


As maquetes aí acima foram confeccionadas pelos agentes comunitários da minha cidade (Cândido Sales-Bahia) para ilustrar como deve ser uma cidade saudável e como é uma cidade doente. O trabalho faz parte do nosso curso de capacitação como Técnicos em Agente Comunitário de Saúde, pela Escola de Formação Técnica em Saúde Prof. Jorge Novis.

Não dá para dizer que criamos obras primas, foi feito tudo muito de improviso, mas deu para sentir que vivemos (nós, terráqueos) em cidades ques passam longe de poderem ser chamadas saudáveis.

Falando em construção de cidades ideais, tem uma página de jogos que eu acho ótimos para nos fazer pensar sobre como devemos tratar o meio ambiente, de vez em quando eu jogo com a minha filha por lá.

Quem quiser conferir, vai o link do meu preferido: http://www.eyezmaze.com/eyezblog_en/blog/2005/09/grow_cube.html#monster

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Um repeteco e duas propagandas

Aproveito que acabei de fazer uma postagem no blog que partilho com o meu irmão (Náufragos no Sertão) para colar o cartaz aqui. Acho que valerá a pena conferir especialmente os textos do meu brother, e também um meu lado menos ficcional e menos poético.

E como estamos colando cartazes, dou uma de coruja e faço o comercial do Fábulas de Havana, blog em que eu transcrevo as histórias inventadas pela minha pequena rebenta. Se não for por outra razão, as ilustrações do Fábulas são todas feitas por mim no Paint, confiram o quanto eu desenho tão mal quanto uma criança de seis anos.


Náufragos no Sertão: Quando o cinismo semeia ignorância: "

sábado, 24 de julho de 2010

Decidi pintar um quadro

Decidi pintar um quadro cheio de adjetivos incompreensíveis e riscos esnobes. Meu quadro contará histórias ultraromânticas de paixões loucas e mortes carregadas de insanidade. Ele fará as pessoas suspirarem por sua simplicidade em misturar elementos complexos e torná-los uma coisa totalmente sem lógica. Será ilegível para os menos sensíveis e feio para a maioria. Causará vômitos nas damas das galerias e ereções em centenários cegos. Será um quadro mudo, como todos os quadros devem ser, e será um grito de desespero da pintora sem dedos.

Começará por uma tela sem cores, nem o branco, e terminará por uma explosão da ausência de contornos. Os meios ficarão vazios e a extremidades também. Terá movimento a imagem, os olhos correrão de um lado ao outro tentando encontrar algo para ser enxergado.

Ficará pronto com certeza algum dia, ou noite, no meio de uma hora cansada, entre um gole de café e um bater de porta.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Dia

O dia nasceu.
É dia outra vez.
Ressuscitaram as idéias requentadas.
Aboliram a escuridão. De novo.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Solidão

Família. Sons conhecidos, visões estranhas. Teve uma família um dia e a perdeu. De quem era a culpa? Sua? O que podemos fazer para evitar os outros de seguirem seus próprios caminhos?

Fazia falta, muita falta, ter alguém para ouvir a sua voz. Os outros fingiam estar ouvindo, mas não ouviam. Ficavam parados escutando, só escutando. Olhar para a pessoa enquanto ela fala não significa compreender. Andavam todos ocupados com coisas passageiras e sem importância, mesquinharias pessoais, projetos financeiros.

Ninguém para ouvir a solidão na voz desesperada. Ninguém para dividir os sonhos inúteis, rir das brincadeiras sem fundamento, planejar revoluções que não sairiam do papel. Alguém para segurar a sua mão dentro da noite fria e passar um pouco de calor desinteressado.

Queria sair e bater nas pessoas. Tirar sangue daquelas criaturas dormentes e sem horizontes. Olhavam para os pés, olhar para o céu era pedir demais. Paravam, olhavam um segundo para o céu e voltavam a olhar para os pés. Medo de tropeçar, parecia. Ausência de curiosidade.

Não conseguia se aproximar deles. Eram cheios de pensamentos confusos.

Em si havia o vazio de idéias e sentimentos. Sem memórias. Sem planos. Solidão apenas.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Germinação

Nasceu
Cresceu e se espalhou
Abriu seus braços
Aos quatro ventos

Lançou
Esporos ao solo seco
Adormeceu sob o cascalho
Esqueceu de sonhar

Germinou
No calor do sol mortiço
Rebentou em terreno pedregoso
Rendeu controvérsia com o minguar de lua

Resistiu ao trovão e ao pé do gado
Sufocou os espinhos entre a folhagem
Carregou de sementes o fruto-ventre

Murchou de vergonha ao meio dia
Recolheu as raízes ao miolo
E dormiu pra esperar o outro inverno

domingo, 27 de junho de 2010

A razão do riso




"Humana ao ponto de se aproximar de uma mulher ainda ensanguentada e vestida de noiva para suprir a mórbida curiosidade de se sentir próxima a ela e conhecer sua história. Não havia nenhum destino planejado para esta informação, somente aquele que damos ao bizarro e ao diferente quando cruzam o nosso caminho. Havia também uma pitada do tempero chamado de espírito crítico pelos mestres. A mesma coisa que nos faz rir dos cômicos enquanto interpretam  suas farsas idiotas. Rimos justamente porque consideramos uma idiotice alheia àquele que ri; rimos pelo ridículo do outro e não nosso; rimos pelo alívio do defeito não nos ser exclusivo. É por isso que para achar graça em alguma desgraça ou piada é necessário que nos sintamos imunes a ela no momento da representação..."

A desgraça da outra era fácil de ser encarada, não era a sua própria desgraça.
* A personagem da qual este trecho foi retirado é enfermeira na emergência de um grande hospital.

sábado, 26 de junho de 2010

Comunicação

Falamos
ninguem nos ouve

Falamos com palavras
não nos compreendem
Falamos com lágrimas
ninguém sente compaixão

Falamos com violência
apatia
Falamos com ódio
indiferença
Falamos devagar
fingem não nos ouvir

Falamos através de manifestos
arquivam os originais
Falamos através de protestos
armam cordões de isolamento ao nosso redor
Falamos através da seção de carta dos leitores
queimam as nossas cartas

Pedimos
Gritamos
Imploramos
Esmurramos
Chutamos
Mordemos
 

Olham para o outro lado
Só nos resta calar
O Silêncio fala por nós.




sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mobilização Nacional dos ACS/ACE




Caminhada dos ACS de Cândido Sales na Mobilização Nacional em prol do Piso Salarial da Categoria


Nos dias 16 e 17 de junho os Agentes Comunitários de Saúde e os Agentes de Combate a Endemias do Brasil promoveram uma mobilização nacional em prol da aprovação do piso salarial das categorias. Caravanas de ACS/ACE estiveram em Brasília para pressionar o legislativo a não adiar por mais um ano a criação do  plano de carreira.

O Agente Comunitário de Saúde é profissional subordinado às Unidades de Saúde da Família, através de visitas aos domicílio das famílias e reuniões comunitária  fornecem informações sobre prevenção em saúde, cuidados pré-natais, acompanham gestantes, crianças pequenas, hipertensos, diabéticos, tuberculosos e pacientes com hanseníase. Grande parte destes profissionais tem como base o salário mínimos, muitos ainda não recebem insalubridade e exercem funções além das suas atribuições.

 O Plano de Carreira continua em discussão no Congresso Nacional, a previsão é que seja votado até o final de junho deste ano.



Detalhes das negociações do CONACS no Congresso

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Pequeno encontro

- É perigoso uma moça tão bonita andar por aí sozinha sem ninguém que a proteja. Precisa de alguma proteção? Uma carona ou talvez um ombro amigo?

Ela aceitou a carona.

Deu a partida e o carro voltou a deslizar pela avenida bem cuidada.

- Eu faço tudo por quem sabe retribuir. Para moças bonitas faço muito mais.

Com o braço direito na direção, Franco pensou que era seu dia de sorte. Discretamente tirou as medidas da moça com o olhar microscópico,
estacionando a inspeção nos lábios. “Será que ela sabe morder? Mulher que não morde é fria, sem mordida não há amor possível”.

A loira tinha um olhar atrevido, um jeito livre e ousado de erguer a cabeça e projetar o perfil e, ao mesmo tempo, uma boca que parecia sempre prestes a
beijar. Quando falava, seus lábios faziam movimentos provocantes e vagamente cínicos. A desenvoltura em aceitar a carona e se insinuar
para um desconhecido não deixaram dúvidas a Franco, tratava-se de uma cobra criada pronta para dar o bote. “As perigosas são as mais atraentes”.

Decidiu deixar a visita ao banco para outro momento.Elisa. Precisava dar atenção à sua mais nova amiga. Evitaria falar sobre as circunstâncias
que a levaram a caminhar errante pelas ruas de um bairro imundo. Possuía ares um tanto vulgares, de gente mal criada e cheia de vontades,
podia ser uma vigarista, talvez, mas não tinha cara de profissional. O corpo bem feito e cuidado seria um cartão de visitas master em qualquer ocasião.

Trataria bem da moça. Conhecia a natureza das mulheres: “A mulher é mercenária. Sem sentir e sem saber, está sempre se vendendo por alguma coisa:
ou posição, ou glória, ou dinheiro.”

Jantariam. Talvez ele comprasse umas sandálias novas para ela.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

TSE decide que Ficha Limpa vale para condenados antes da lei

TSE decide que Ficha Limpa vale para condenados antes da lei

Será que vai sobrar alguém para ser votado neste país? Eu acho que sim, malandro que é malandro mesmo não tem complicações com a jUSTIÇA.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O amanhã

O Amanhã não chegou
nem chegará
sem ninguém aqui
para o esperar.

Ele virá, não temam
Ele virá.
Certo como o hoje
que passará.

Vem depressa, Amanhã
O Hoje cansa.

domingo, 13 de junho de 2010

Agulhas, agulhas, agulhas


Quando era criança eu tinha medo de vacina. Sério, eu implicava até com as gotinhas, era a mesma coisa com dentista, cheguei a me enfiar debaixo da cama para não ir ao dentista. Normal, conheço poucas crianças menores de dez anos que não odeiem vacinas, dentistas, remédios. Covardia é aceitável em crianças. E nos adultos?
Este ano eu comecei a trabalhar com saúde, a primeira campanha que encarei foi a campanha contra H1N1. Foi nesta campanha que eu descobri o grande número de adultos que se recusam a receber vacinas, qualquer uma, os “resistentes” como são chamados pelos profissionais de saúde. Sim, sim, tem marmanjo barbado correndo de agulhada. Vamos descontar os casos em que as pessoas tem argumentos aceitáveis, por exemplo, a pessoa fica receosa de se vacinar quando ouve boatos sobre reações adversas, sobre lotes problemáticos...
Mas existem os casos de total falta de argumento, a pessoa diz que não irá se vacinar porque “não precisa”, “tem uma saúde de ferro”, “não tem tempo”. Sinceridade só naqueles que admitem de uma vez: não gostam de agulhas. Justamente com estes fica difícil contra-argumentar, se o fulano disse que não precisava se vacinar tem como se apontar dúzias de motivos para fazê-lo, e para o medo, qual argumento usar?
As pessoas são esquisitas sem dúvida. Enquanto algumas exigem longas conversas sobre a necessidade e a importância da vacinação, outras exigem paciência para convencê-las de que não estão no grupo alvo da campanha, é preciso aguardar a idade certa, a extensão do privilégio a novos grupos alvos, procurar a rede particular...
Guardar e encontrar as carteiras de vacinação, sair de casa, aguardar em filas longas, arregaçar as mangas, estas são atitudes de pessoas precavidas e preocupadas não só com a própria saúde, mas também com a saúde de todos.
Para esclarecimento, passou o meu medo de agulhas, entendi que a picadinha no braço é um custo pequeno em comparação a adoecer, gastar com remédios, ir para um hospital. Além do que, ter medo de vacina é coisa de criança.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Dedos podres ou Os eleitores que não sabem escolher

Conhecem aquela história de pessoas que possuem os dedos podres? Como as mulheres que dentre dúzias de opções escolhem somente os homens mais complicados, ou o consumidor pé frio que escolhe sempre as verduras estragadas, quem só compra gato por lebre e os que escolhem sempre as piores amizades.

Pois é, o Brasil é um país de eleitores com os dedos podres. Para nós, brasileiros, não basta sair nos jornais que um político candidato às próximas eleições está envolvido em falcatruas para que não votemos neles. A cada nova eleição a população elege e reelege figuras suspeitas com ficha corrida, histórico de pilantragem e até mesmo criminosos perigosos, acusados de pedofilia, tráfico e o diabo a quatro.

Está sendo aprovado o "Ficha limpa", medida jurídica para impedir os brasileiros de se tornarem vítimas de um dos seus maiores defeitos, o dedo podre na hora de escolher seus representantes políticos.

Eu me pergunto qual classificação dar a este eleitorado míope, aparentemente desprovido de qualquer senso ético e inapto a julgar por si mesmo quais candidatos não merecem confiança. Nossa incapacidade de escolher direito obriga-nos a criar leis para garantir que se cumpra o óbvio: não escolhamos o pior à disposição.

Pergunto-me ainda até que ponto os nossos veículos de comunicação em massa estão cumprindo seu papel de alertar a população sobre a ficha corrida dos candidatos em todas as partes do país. Pelo que vejo, a realidade do nosso país não está bem retratada em nossos jornais e telejornais. Os mistérios sobre o nosso sistema eleitoral, sobre os jogos de interesse que decidem as eleições, sobre os currais eleitorais e trocas de favores permanecem omitidos pela imprensa, esquecida de sua responsabilidade social para com os telespectadores, provavelmente comprometida por seus patrocinadores.

Imagino que daqui para frente os políticos de "Ficha suja" serão obrigados a procurar substitutos submissos e sem ficha corrida para indicarem como seus sucessores. Aí é que está, se não somos capazes de escolher bem sequer quando o óbvio salta-nos sobre os olhos, quanto mais em ocasiões em que os defeitos estejam mascarados.

Daqui para frente seremos obrigados a prestar a atenção no que nos dizem os candidatos durante o horário eleitoral para sabermos se estão dizendo coisa com coisa? Sim, pelo que parece, precisamos quitar este débito com a nossa democracia.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Cérebros piolhentos

O supra-sumo da invencionice divina foi o cérebro humano. Colocado no crânio de um primata tão piolhento quanto todos os outros, esta magnífica máquina orgânica de gerar idéias e armazenar memórias alçou a existência careta e sem novidades da vida sobre o planeta Terra aos píncaros de uma existência cujo destino é desconhecido.

Sem cérebro os outros animais do planeta não são capazes de fazer nada além do que foram programados a fazer. Os animais não modificam o ambiente em que vivem, não jogam lixo no espaço, não esculhambam com o clima, não contaminam os solos ou envenenam os mares. Nós, seres com um cérebro pensante, somos dotados da capacidade de aprender e ter curiosidade, por isso nunca conseguimos deixar as coisas no lugar em que encontramos. Somos fascinados por desarmonizar o que já nasceu harmonizado e experimentar maluquices das quais mal desconfiamos das conseqüências para nós e para todos. Sinceridade? Não nos preocupamos com as conseqüências.

Parece que Deus se enganou um pouco com o brilhantismo de sua invenção, Ele achou o cérebro “aprendedor” suficiente para dotar a humanidade da capacidade de progredir e se tornar algo melhor. Estava enganado, o Iludido. A Humanidade aprende muito devagar e desaprende rapidinho. A possibilidade dos 6 bilhões atuais de primatas cerebrados sobre o globo aprender novos hábitos de vida que nos poupem da extinção total é distante. Nosso fascínio por inutilidades e mesquinharias é maior do que nossa capacidade de conservação.

É justamente esta a beleza da nossa existência piolhenta: não saber o que virá depois. Conquistaremos o universo e povoaremos outros mundos para esculhambarmos ou aprenderemos a prolongar a vida útil do nosso próprio planeta? Nossos cérebros são magníficos ao ponto de solucionar esta equação vital?

Terá graça desmerecermos o ato do nosso Criador de nos fazer caóticos e autodestrutivos para nos rebaixarmos ao nível das outras formas de vida sem inteligência que conseguem viver em harmonia com seu habitat?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Espécimes longe de extinção


Ultimamente eu tenho lidado com um crescente número de pessoas mentirosas. “Normal”, você deve estar pensando, “mentirosos existem em grande número desde sempre”. Concordo. Por ser uma pessoa de natureza desconfiada, nunca descarto a possibilidade de que as pessoas não sejam o que aparentam e de que elas podem estar mentindo ou omitindo partes da verdade, feliz ou infelizmente, eu sou assim. Chame-me desiludida, pessimista, negativista, o que eu sou não vem ao caso, interfere apenas na maneira com eu lido com a informação, seja ela, tenho convivido com um número maior de mentirosos.
Faz diferença a minha posição de esperar sempre o pior das pessoas? Faz alguma. O tempo gasto em surpreender-se com a descoberta deste vício, a mentira, por exemplo, em mim é curtíssimo. É como se eu já esperasse por aquilo ou coisa pior. Falta-me a indignação recorrente nos que mantém maior fé na idoneidade das pessoas, sobra o tempo para observar melhor o comportamento dos espécimes – mentirosos – em ação.
Reparei vários pontos importantes sobre o comportamento dos mentirosos observados, alguns deles quebram certos mitos divulgados sobre tais espécimes. Percebi que o mentiroso é pouco inteligente. Muita gente acha que para criar uma versão alternativa de fatos é necessário ter muita imaginação. Bobagem, o mentiroso procura o caminho mais rápido e óbvio para suas mentiras, geralmente, ele improvisa as mentiras o que prejudica a verossimilhança, sua capacidade de raciocinar com velocidade o bastante para inventar mentiras sem furos é pequena nestes casos. Sem contar o fato de que o mentiroso quase nunca é especialista naquilo sobre o que precisa mentir, a falta de conhecimento técnico o desmascara na frente de qualquer um que tenha o mínimo conhecimento verdadeiro sobre o assunto.
Percebi ainda que os mentirosos são muito temperamentais, escolhem suas vítimas conforme suas afinidades pessoais. A parcialidade na emissão de suas lorotas os denuncia. Quem além de um mentiroso descarado descreveria com despeito na voz coisas que não ocorreram como se elas tivessem ocorrido?
Além disso tudo, o mentiroso quase sempre é covarde, jamais revela a sua inimizade para as pessoas pelas quais nutre algum ressentimento, sua arma é a mentira porque é incapaz de confrontar o seu alvo e lutar com armas honestas. E o mais alarmante, esses espécimes vomitam a sua peçonha quase sem sentir, não se dão conta do mal que espalham, são praticamente doentes contagiosos sem consciência de seu estado epidemiológico.
Recomendo como remédio eficiente para repelir estes espécimes a utilização de grandes doses de franqueza e sinceridade de opiniões, de preferência com muitas testemunhas oculares e auriculares, para garantir que o seu veneno não subverta o antídoto em agente corrosivo e o lance sobre a sua pessoa. A distância também seria uma boa recomendação, quando não for impossível.
Fica o alerta: conheçam o inimigo e entendam suas fraquezas.

sábado, 5 de junho de 2010

"A Copa do Mundo não acabou ainda?"

Essa é a pergunta que faço e refaço todas as noites quando desperdiço alguns minutos da minha vida em frente à televisão. O meu marido, pacientíssimo, responde-me: "Faltam tantos dias para ela começar." Pfff! Então, por misericórdia, por que o noticiário vem me incomodar com obsessivas notícias sobre este assunto tão desinteressante para mim? Será, meu Deus, que eu sou a única pessoa dentre as milhões neste país que não está nem aí para o que vai acontecer nesta Copa ou em qualquer outra? Serei a única opiniosa pessoa a julgar a "paixão" pelo futebol uma total falta do que fazer e do que pensar do nosso povo?

Justamente em ano de eleições presidenciais, os jornais estão mais preocupados em discutir e entrevistar as pessoas sobre o que elas acham sobre os craques da bola. Engraçado é que eu não vejo ninguém colocar o microfone na cara dos transeuntes para saber o que eles acham sobre Serra, Dilma e Marina. Será que o povo possui opinião formada sobre quem deva governar este país nos próximos 4 anos? Mas a taça do Mundo, todo mundo sabe para quem deve ir...

Entre uma bola e outra já ouvi rápidas declarações de alguns presidenciáveis que os descartaram de minhas opções de voto. Mas, e os eleitores mais indecisos do que eu? Estão conseguindo entender que cargas dágua estão falando os candidatos na televisão e no rádio? Creio eu que as frases cáusticas do técnico da seleção causam mais sensação entre o eleitorado nacional. Aliás, só pelo fato do Dunga não fazer doce com a imprensa brasileira, ele já ganharia o meu voto.

Nem vou falar dos candidatos ao legislativo, estes não existem e pronto. Vão se eleger na base da boca de urna, das dentaduras e dos outdoors. Ganhar pela propaganda, porque se depender das propostas... Nada neste país causa estranhamento, pois se ex-presidente tirado por impeachment consegue se eleger senador da república nada se deve estranhar, nada.

O verde amarelo segue enfeitando o nosso ano eleitoral, preenchendo com sons de cornetas e gritos  de hola os noticiários.

Franco

“Em terra de cegos, quem tem um olho é rei. Mas no território dos miseráveis reina o maior miserável de todos.”

- Todo mundo o chamava de Judeu, resquícios de um anti-semitismo arraigado, mas ele não era judeu. Era católico de nascimento e ateu por opção. Não cabia Deus em suas filosofias de mundo, muito menos óbolos, dízimos ou ofertórios. O único culto que aprendeu a presidir foi o culto à sua própria pessoa: os filhos pródigos de Vancouver alquebrados pelas orgias acabavam por fazer peregrinação ao seu santuário, depositavam a seus pés os pequenos mimos, em troca recebiam as dádivas monetárias necessárias para financiar mais uma noite de farra, para pagar a algum agiota e preservar os ossos dos joelhos, havia aqueles que usavam as dádivas para alimentar mais uma noite de vício.

O seu templo era um grande balcão na zona mais ordinária da cidade, um pequeno escritório no hall de entrada para a secretária, no primeiro andar, passando por uma estreita escada em espiral estava o seu altar de atendimento (8 horas por dia, de segunda a sábado) e os terceiro e quarto andares serviam de depósito. Tudo seu, comprado com dinheiro suado e contado.

Começou com uma lojinha pequena, um balcão e duas prateleiras, guardava o dinheiro em uma gaveta, consertava relógios. Era relojoeiro por profissão, aprendido o ofício ao pai, e o pai ao avô. O que fez a sua fortuna foi o seu enorme senso de oportunidade e o seu tato para analisar as pessoas, um empreendedor nato. Sua aprofundada análise de mercado lhe mostrou exatamente onde investir: na necessidade alheia. Tal matéria prima jamais havia de faltar, sempre há uma prostituta, ou um viciado, ou um gatuno querendo se livrar de algum objeto de alto valor sentimental e médio valor monetário.

É assim no ramo dos penhores, você precisa de um olho avaliador muito rápido. Primeiro, deduzir quando pode conseguir pelo objeto no mercado, depois analisar o grau de desespero do portador do objeto, terceiro, ser um perfeito blefador.

Nunca oferecer mais do que vinte por cento do valor real e nunca ultrapassar os quarenta por cento. Por último, ser inflexível. Não há espaço para misericórdia nesse ofício.Os clientes variam em figura, a maioria se torna dependente. Iniciam a via-sacra trazendo uma coisa velha e sem uso, algum cacareco de família, outros trazem coisas realmente valiosas mas que não lhes servem de nada. Na fase crítica, trazem televisores, móveis, a pia do banheiro. E há os que oferecem o corpo e os serviços em penhor. Desses Franco não gostava na juventude, a idade o ensinou a apreciar qualquer oferecimento, vinte anos de profissão ensinam algo a um homem.

- Já pode atender o próximo cliente, Franco?
- Mande subir. – Lúcia vinha sendo sua secretária há mais de um ano, boa garota. Em vários sentidos.
O cliente era Gina, uma magricela viciada em anfetaminas, roubava objetos da família para trazê-los a Franco.
- Quanto você me dá? – a moça perguntava fungando e contorcendo os lábios, como se estivesse aguardando um prato de comida.
- Você roubou de novo, linda? – Franco perguntava em tom paternal, como um padre preparando um sermão moral.
- Não.
- Jura?
- Eu juro.
Passou os dedos desinteressadamente pela porcelana do prato. Jogou três notas de vinte sobre a mesa. Estava sendo generoso, Gina era uma cliente promissora. Seria bom para ela agora, e indispensável em um futuro próximo.
- Foi a última, Lúcia?
- Foi sim, Franco.
- Pode fechar tudo, então.

Lúcia foi uma de suas clientes, mãe doente, precisava de dinheiro para os remédios. Na terceira visita ela não tinha mais do que a roupa do corpo para oferecer e ainda precisava curar a velha mãe. Então Franco recusou a roupa e ofereceu uma boa quantia pelo conteúdo do vestidinho xadrez. Lúcia era uma boa garota, resistiu o quanto pôde. Talvez se Franco não fosse quem fosse, tivesse sentido pena das lágrimas injuriadas, ou se Lúcia não tivesse um traseiro tão perfeito, ele não o tivesse desejado em demasia. Como gostava de repetir, toda injúria tem seu preço e seu tempo certo. O amor de Lúcia pela mãe foi maior do que o seu pudor, a boa vontade de Frank também, pagou todo o tratamento da velhinha e empregou Lúcia bem perto de si para apreciar sua beleza sempre que lhe desse vontade. Olhava agora com nostalgia para aquela silhueta perfeita, saudade da época em que ela lhe despertava a cobiça.
- Mais alguma coisa, Franco?
Franco se aproximou o bastante para sentir o cheiro dos cabelos castanhos da secretária.
- Não, docinho. Vá cuidar da tua mãe.
Mais um dia de serviços prestados aos desesperados daquela metrópole.


(Franco é um dos meus personagens preferidos, o primeiro do gênero masculino. Os episódios em que ele aparece devem ser resultado das minhas leituras do Rubem Braga, do Jorge Amado, do Dalton Trevisan e sem dúvida nenhuma do Nelson Rodrigues. Políticamente incorreto e amante das imoralidades é muito divertido escrever para ele. Espero que ele angarie mais simpatias do que antipatias.)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Embriaguez

Deixou o estabelecimento e seguiu reta até a primeira esquina, local onde se deu conta da sua embriaguez. Cinco litros de vinho tiram uma pessoa dos eixos! A sua cabeça havia esquecido o álcool agindo sobre os reflexos, mas o seu corpo não foi capaz de ignorá-lo. Zanzou, cambaleou e só não caiu porque achou a escora do poste de iluminação. Ingratamente brindou o pé do poste com esguichos de vômito e esqueceu-se de lembrar o quão disciplinado era o seu suco estomacal, que poderia muito bem ter se exteriorizado após os rodopios no restaurante, mas não o fez. Prova incontestável da seletividade de sua bílis, escolhia sempre os locais mais limpinhos para se espalhar e adivinhava as opções éticas e políticas de sua dona, recusando misturar-se com a gentinha filadora de bóia do restaurante de esnobes. Sem dúvida o seu estômago era mais elitista do que ela própria.
 

Ainda apoiada ao poste e vendo o mundo girar lembrou-se do milagroso “torradinho” que levava sempre consigo no embornal. Não era nenhum alucinógeno, não se preocupem. Era só uma receita de família que levava imburana, gergelim, ginsen, barbatimão e erva-doce, tudo muito bem tostado em um braseiro para retirar o óleo e pilado em seguida para obter o pó, que ia amarrado em forma de patuá. Uma cafungada só no odorífico balsâmico daqueles extratos naturais e a zonzeira passou.
 

Nesse momento de lucidez que procedeu a embriaguez, luminosa como um raio cruzando o céu noturno e terrível como a descoberta de um novo mundo, uma monstruosa realidade apresentou-se aos seus sentidos. Os rompantes de euforia que antecederam a sua saída do restaurante desembocavam agora em rios de desespero. Um segundo de realidade é capaz de esmagar o indivíduo, e naquele segundo específico e especial, fatidicamente, Alice foi esmagada pela contemplação de nada além da mais verídica e factual verdade: ela estava completamente só. 

Restavam apenas dez quilômetros de caminhada até sua casa, para encontrar o último de seus parentes recém-morto enterrado em uma cova de terra ainda fofa e uma máquina de escrever que datilografava sozinha frases inúteis.

Para não cair no patético de arrancar os cabelos, tomar veneno ou virar freira seu cérebro deu ordem para ir pensar em coisas mais amenas. 



(Da mesma personagem de "Estudos Cerebrais" , "Jantar" e "Fuja")

Jantar



Aceitou sem receios acompanhá-lo de carro até o local da alimentação, surpreendendo-se apenas porque não estava indo  para um restaurante, mas para um apartamento. Fosse ela uma destas almas mesquinhas que julgam mal aos outros,  poderia tecer dezenas de pensamentos injuriosos, “o sovina não me paga um jantar”, “o safado planeja jantar-me”, “o  estróina deseja jantar-me sem me dar de jantar”. Não pensou, todavia, nada disso. Pensou que uma pessoa que alimenta  a outra cumpre seu papel no universo. O professor era duas vezes provedor, provia alimento à alma e ao corpo. 

Receou quando foi indagada sobre o nome. O nome era uma parte de si que julgava ser muito íntima para ser dita ao léu. A partir do nome é possível conhecer todo o futuro e passado de uma pessoa, descobrir-lhe medos e sonhos. Deus havia proibido o povo escolhido de chamá-lo pelo verdadeiro nome, e o segundo mandamento nas Tábuas da Lei diz: “Não usar O santo nome em vão”. Se entregasse o verdadeiro nome, colocaria o destino inteiramente nas mãos do homenzinho. 

Disse apenas uma parte do nome:

- Alice. - Com esta metade revelada protegia a metade oculta, protegia o verdadeiro eu.

Como demorava o homenzinho para aprontar um prato tão simples! Em sua casa, Alice usaria o tempo que ele estava gastando indo pilar o trigo no pilão, extraindo a farinha, preparando a massa, colhendo e esmagando os tomates para o molho, cozinharia a massa, buscaria os temperos na horta e picaria tudo em miúdo até que a massa entrasse no ponto, e já estaria servida à mesa.
- Aqui está, senhorita! Espaguete à bolonhesa, à minha moda.

Alice vomitou aos pés da mesa, frente à visão das bolotas de carne.

- Perdoe a minha descortesia, mas sou vegetariana!

Evitara dizer antes, quando fora indagada sobre coxas e barrigas, para não magoar o anfitrião. Mas não suportou o engulho quando sentiu o cheiro da carne. Criava animais para retirar os insumos e vender as crias, mas não tocava nas carnes.

Ainda tentou separar de lado os pedaços repugnantes de células animais, mas o sabor devia estar impregnado na massa, resumiu-se então a remexer com a ponta do garfo, fingindo interesse no prato.

Comer era algo tão pouco especial para toda aquela gente habitante do pequeno planeta sem idéias, comeriam qualquer porcaria, comeriam até a si mesmos, na falta de petiscos com alto teor de gordura e açúcares. A comida dos outros habitantes daquele pequeno mundo parecia-lhe morta, sem cor, sem movimento. Tinha gosto de coisa velha e embolorada, escondida da luz, desfacelada pelo contato com o ar, conservada em química para não apodrecer fora dos intestinos.

Alimentar-se naquele planeta era perigosíssimo. Precisava voltar para casa.

(Adaptação de texto escrito para um roleplay, o estranhamento frente ao hábito do "outro", como eu já coloquei, o problema são os outros, não nós.)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Fábulas de HaVaNa: Cachos de uvas

Fábulas de HaVaNa: Cachos de uvas

Última postagem do Blog que eu administro para a minha filha Havana.

Trabalhar com família, é claro, só podia dar problema. Tivemos uma briga feia na última semana porque eu me recusei a publicar (ou postar, como preferirem) uma história que ela inventou. O título era "O carneirinho", texto sem princípio, meio ou fim, onde ela apenas perdeu tempo com a descrição de uma família de carneiros saltadores em que um deles se torna músico. Não me agradou pela falta de cuidado dela em explicar quais conflitos poderiam ter havido para que o carneirinho saltador não realizasse o seu sonho de ser saltador como os outros e acabou músico, e em uma banda cheia de outros animais que nem haviam entrado na história.

A briga foi feia, ela esperneou pelo chão reclamando a sua liberdade de expressão e eu bati pé firme sobre os meus direitos de editora e mãe. Consequência da briga, esta nova história, a "Cachos de uva", ela preferiu ditar para a minha mãe, vó dela, que segundo ela, a neta, não altera nada do que ela escreve. Realmente, intriga-me como ela pode saber se eu altero ou não o que ela dita levando em conta que ela não sabe ler! Concluí que ela decora o que nos pede para escrever e pede repetidamente para que nós leiamos o que já passamos para o papel. É uma tirania total, sinto-me cerceada no meu direito de censora e representante editorial desta pessoinha.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Aparências

A consonância entre a aparência e a essência das pessoas não é obrigatória.

Há pessoas nas quais a real personalidade jamais transparece e há pessoas que demonstram exatamente o que são. Não posso classificar estas últimas como dignas de serem chamadas sinceras, são apenas incapazes de parecer um pouco melhores do que não podiam deixar de ser.

Existem ainda as distorções. Os outros tiram conclusões sobre nós que independem do que vêem ou ouvem. Baseiam estes julgamentos em circunstâncias e detalhes de suas próprias vidas. Enxergamos as outras pessoas através da nossa própria miopia.

domingo, 16 de maio de 2010

Humanas Criaturas


A criatura humana entrou em decadência dois minutos após a Criação. É penoso a ela reconhecer a descentralização do Universo, é penoso reconhecer como o umbigo não atrai para si os desvelos de toda a corte celestial.
A criatura humana crê em um Criador até se por sobre os dois pés e alcançar a fruta das ilusões. Ela nega a um deus inventado, remédio para todos os males, resposta para todas as perguntas, pão para todas as fomes. A criatura humana desconhece o seu papel no cosmos: rejeita a passagem do tempo, rejeita as adversidades da vida, rejeita a inevitável morte. Mas ela clama pelo deus rejeitado quando se aproxima a hora de agonia, porque as ilusões são vazias, disfarces para uma verdade inegável. Deus existe, não existe para servir aos caprichos da presunçosa criatura, existe para que tudo o mais possa existir.
O Criador não é um ser isolado, é a obra em si e tudo que dela faz parte. A criatura humana é parte da Criação, mas ela prefere abrir mão do seu papel para se acomodar. Deseja que o Universo se expanda sem ela, deseja o fim da violência, a solução para as guerras e para a fome, o fim da poluição, contanto que não seja necessário erguer-se um dedo para isso. A criatura humana é fútil, burra e preguiçosa. Joga sobre o seu deus inventado a responsabilidade de suas omissões e egoísmos. A criatura humana sonha com uma pós-vida sob a medida de seus egoísmos. A criatura humana aprende devagar, esquece rápido, desiste cedo, reclama muito.