quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Reclamar e chorar

Esse mundo é uma droga, todo mundo sabe. Mas ainda tem gente que reclama e cruza os braços. 

Adianta reclamar da droga que o mundo é? Reclamar melhora? Reclamar serve para as democracias, para os serviços de atendimento ao consumidor, para os serviços de proteção disso e daquilo outro, para os pastores e padres, para o papa, para o pai, para a mãe. Porém, reclamar não serve para melhorar o mundo. 

A vida não melhora porque você reclama. Ela melhora se você trabalha, transforma, desmonta e remonta, se arrepende, pede perdão, conserta.

A vida não é muro de lamentações. Então, é só assim, vou chorar atrás do muro e tudo irá se resolver? Tudo indo para o buraco, vou sentar no meio da estrada e chorar. Tá pensando que a vida é fácil assim, camarada? Não é não! Acorda, chorar não resolve nada. Lágrima só comove mocinho de filme de caubói, mesmo assim, só se a mocinha for muito bonita. Senta no meio da estrada e chora pra você ver se não te atropelam. Senta! Senta!

Quando eu era pequena e chorava por alguma coisa - e olhem que eu nunca fui de chorar, mas já chorei sim, para o caso de alguém duvidar - a minha vó me dizia "Tu ainda deita na cama pra chorar? Chore não minha flor, que coisa pior sempre há de vir". Em seguida me ameaçava de dar uma surra pra que eu chorasse com razão. Porque chorar sem razão é fraqueza. Chorar sem razão é fricote. E nessa vida se ganha algo com fricote?

Por isso, minhas flores, não chorem. Não vale a pena. Todo mundo sabe que chorar é só desabafo, lágrimas não movem o mundo. Tampouco lamentações. Mas se a precisão for muita, então chore. Mas não se demore muito nisso, porque o mundo gira e não espera.

E não chore na cama que é lugar quente. Nem chore no escuro, nem detrás do muro. Chore na pia onde a água é fria.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A angústia de escrever

Perdi o fio do risco, emudeci. Olho a tela em branco, aguardando caracteres a serem digitados e não tenho o que dizer. Quem diria, que eu, algum dia, ficaria sem ter que dizer, eu que já disse o que os outros não queriam ouvir, o que ninguém sabia que podia ser dito, o que todos queriam, mas não diziam.

Foi assim só: calei-me. Nem calos faço mais nos pulsos por apoiá-los sem jeito na quina da escrivaninha. Perdi o jeito. Mas também, escrever para quem? Ninguém mais a desafiar com meus desaforos líricos, minhas sátiras tortas, as sandices estão morrendo todas no meu cérebro, sem contaminar a folha mágica que brilha dentro do computador. 

Para onde vão as letras depois que as escrevo? Como faz para piscarem antes da barra negra? Será verdade que alguém do outro lado pode ver os rabiscos que faço do lado de cá? E o que lê este alguém? São os sinais pretos retorcidos do indo arábico ou são os meus próprios pensamentos que ouve, perdidos dentro de sua cabeça?

Não sei. Se soubesse lhes diria. Mas eu não sei.