domingo, 19 de setembro de 2010

Super Nova (ou Embromações Astronômicas)


O tempo se arrastou maçante e sem sons, naqueles poucos segundos que demoram milênios para passar. A luz do poste piscou e o mundo virou um breu. Minha cabeça parou de funcionar como máquina de nomear os objetos e só restou o corpo, massa cujas reentrâncias latejavam de dores desconhecidas. Era calor ou frio que eu estava sentindo? Senti o meu umbigo atrair todas as extremidades para o núcleo de meu ventre, as extremidades esticavam e resistiam ao centro de atração e a minha dor devia ter origem justamente nesta resistência elástica de minhas fibras em se tornarem um só com meu umbigo. Era como se o mundo inteiro estivesse em mim! A resistência de minhas fibras foi vencida e todo o meu ser coube no diâmetro do meu centro umbilical formando em seu núcleo uma imensa nuvem dos gases que compõem o Universo. Meu umbigo se tornou um ponto nebuloso, onde a força gravitacional passou a agir violentamente, contraindo os gases e aumentando a temperatura. Todas as minhas idéias partidas foram liquidificadas e permaneceram em suspensão, até que a temperatura subiu a um grau insuportável de concentração e ocorreu a explosão. Essa grande explosão ocorreu em uma fração de segundos e a partir dela o meu ser contraído aos limites da matéria subatômica voltou a se expandir, inflando para longe tudo ao redor. Primeiro a anti matéria foi sugada, e junto com ela eu pude partilhar da dor e do sofrimento dos seres ao meu redor – a confusão, o medo, a raiva, o desespero – depois foi repelida e eu passei a irradiar a minha essência para muito além de minha órbita. Éramos todos um só dentro do universo.

Universo em expansão, considerei o vazio das distâncias percorridas. Nem a luz alcançava-me naquela velocidade, por isso permaneceu presa dentro da lâmpada de vapor de sódio pensando sobre a sua lerdeza. No meio das partículas primordiais tive um encontro inusitado.
- Você por aqui?
- Estou de passagem.
- Ah!
- E você?
- Eu não. Fico em toda parte. Aqui ou lá. É tudo o mesmo.
- Entendo.
- Estou te incomodando?
- Não, não. Sempre aparece alguém por aí, distrai.
- Legal.
- Gostei do teu cabelo.
- Obrigada.
- É natural?
- Sim.
- Parece que estão chamando por você.
- É mesmo.
- Foi um prazer!
- Idem!

De repente, o meu campo gravitacional se tornou tão denso que a luz capturada por ele ficava aprisionada lá dentro e de fora só era possível enxergar uma imensa bola negra de nada. Vaguei pelo cosmos sugando corpos para dentro da minha massa, corpos estes que jamais seriam vistos novamente. Até que aumentei ao limite a concentração de massa dentro de mim e rasguei a garganta de um buraco de minhoca de um lado ao outro, atravessando para o lado oposto do Universo.
Então eu estava de volta!


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