quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Desejo de inconsciência




Inconsciência. Era tudo o que podia desejar. Desejava que  sua mente fosse capaz de racionalizar e fazer enxergar apenas o que fosse mais seguro para si. Desejava que  o sentimento de culpa fosse mascarado em outra coisa que  fizesse esquecer a existência da culpa. E principalmente, desejava ser capaz de justificar as ações sem a consciência de que elas eram uma tentativa de  se fazer sentir melhor consigo. 

Enxergava tudo isso claramente. Novamente o interior não correspondia ao exterior. Nas atitudes  demonstrava fé nas pessoas e em seu poder de transformação; no interior, via os homens como animais que não aprendem lições.  Presenciou  o estado de ignorância e precariedade de condições na vida de muita gente, não havia água tratada, comida ou esperança de coisa melhor na vida. 

Juntos  teríamos força reivindicatória?  Juntos poderíamos mudar a realidade? Por dentro, duvidava.

Não duvidava do poder da coletividade, mas duvidava da capacidade das pessoas em se unirem. Mesmo organizados, o que  nos resta fazer era lutar por melhorias, sem garantias de que elas virão. Somos lutadores por continuarmos travando uma batalha que não acreditamos ser possível vencer?

Estamos presos a uma existência que nada nos oferece além de sofrimento e  desilusão. Uma vida que nos dá pouco ou nada. Vida cujo trabalho árduo é mal recompensado.  Lutadores somos, mas estamos sós. Até onde iríamos juntos?

Lutar é perigoso, pensou. É melhor esquecer. 

(Imagem: Metamorfose, Salvador Dali)

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