Inconsciência. Era tudo o que podia desejar. Desejava que sua mente fosse capaz de racionalizar e fazer enxergar apenas o que fosse mais seguro para si. Desejava que o sentimento de culpa fosse mascarado em outra coisa que fizesse esquecer a existência da culpa. E principalmente, desejava ser capaz de justificar as ações sem a consciência de que elas eram uma tentativa de se fazer sentir melhor consigo.
Enxergava tudo isso claramente. Novamente o interior não correspondia ao exterior. Nas atitudes demonstrava fé nas pessoas e em seu poder de transformação; no interior, via os homens como animais que não aprendem lições. Presenciou o estado de ignorância e precariedade de condições na vida de muita gente, não havia água tratada, comida ou esperança de coisa melhor na vida.
Juntos teríamos força reivindicatória? Juntos poderíamos mudar a realidade? Por dentro, duvidava.
Não duvidava do poder da coletividade, mas duvidava da capacidade das pessoas em se unirem. Mesmo organizados, o que nos resta fazer era lutar por melhorias, sem garantias de que elas virão. Somos lutadores por continuarmos travando uma batalha que não acreditamos ser possível vencer?
Estamos presos a uma existência que nada nos oferece além de sofrimento e desilusão. Uma vida que nos dá pouco ou nada. Vida cujo trabalho árduo é mal recompensado. Lutadores somos, mas estamos sós. Até onde iríamos juntos?
Lutar é perigoso, pensou. É melhor esquecer.
(Imagem: Metamorfose, Salvador Dali)
Nenhum comentário:
Postar um comentário