quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Sermões

Não se deve esperar das pessoas mais do que a sua essência recoberta por grossas camadas de hipocrisia. Certos indivíduos, todavia, desinteressam-se de esconder suas essências, conscientes das conseqüências disso. Pode-se dizer que o padre M. fosse um destes seres conscientes de si, convicto o suficiente da sua própria identidade para não precisar chafurdar na lama do “tudo é permitido”.

Jesus andou entre as prostitutas e os cobradores de impostos? Sim. Ele pregou às suas ovelhas que se comportassem como prostitutas e cobradores de impostos? Não. Jesus disse “Amai ao próximo como a ti mesmo” e também disse “o corpo é o templo do espírito”, Ele não disse para amarmos o próximo em sua promiscuidade ou erro e não disse para seguirmos os desígnios do corpo e ignorarmos os desígnios do espírito. Jesus não disse para os homens irem às putas e amá-las em sua devassidão, ele disse para amarmos os devassos como amamos aos nossos filhos, irmãos, pais. Quem vê um filho cair na devassidão e o aplaude? Acaso um bom pai não é aquele que procura guiar seu filho pelo caminho da retidão? 

É certo que o velho padre M. não era a favor de um Estado onde se aprovassem Leis que restringissem o direito das pessoas fazerem suas próprias escolhas, porque a Deus não interessa a obediência forçada e hipócrita. A liberdade que Deus nos concede é a liberdade para seguirmos por caminhos retos e colhermos os bons frutos da nossa bondade ou a de seguirmos pelos caminhos tortos e sofrermos com o amargor de nossos maus frutos.

Por isso não são censuráveis as censuras do velho padre M., são frutos de seu amor pelo próximo e seu sofrimento pelos que são causa de seu próprio infortúnio. Feliz é o homem que não é causa de seu próprio infortúnio, este pode se considerar inocente.


(Trecho de um de vários sermões que escrevi para um antigo personagem padre. Mal creio que a cristandade sobreviva sem mim.)