sábado, 25 de dezembro de 2010

Viagem de ônibus


Detestava ônibus. O corredor de um ônibus é um palanque onde os que estão julgam os que entram e vice-versa. Cada passageiro é visto e avaliado por todos os outros passageiros. Podem nos olhar pelas costas. Podem nos ver dormindo. Somos julgados com a rapidez de um piscar de olhos e não podemos nos defender quanto a isso.

Preferia sentar nas poltronas do meio. Na frente, se é o primeiro a ser visto por todos que entrarem, nos fundos, terá que caminhar mais e ficar próximo ao banheiro, mas é melhor para se dormir. As estatísticas comprovam que a maior parte dos desastres com ônibus atingem a frente ou a traseira do veículo, no meio se está mais seguro, de preferência do lado do motorista. Em uma colisão o motorista vai instintivamente jogar o lado oposto do ônibus e proteger o próprio lado. Pelo menos era assim que pensava.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Desejos e sonhos


 (Imagem: Duas Mulheres em Silêncio, Marcília Mourão)


Os meus sentimentos represavam todos aqui por dentro,  minando com mesquinharia para fora; os dela pareciam se derramar para o exterior  de uma maneira bela e incontrolável.

Se eu estivesse perdida como ela, estaria angustiada. Sabendo para onde eu devia ir naquele momento e conhecendo o itinerário a seguir já era angustiante. Angústia da certeza de que todos os dias havia o mesmo caminho a ser repetido, com as mesmas curvas e retas. A verdade é que eu não tinha certeza se eu era dona da minha vontade e das minhas escolhas ou se elas haviam sido implantadas lá; se existia alguma Lei Superior que controlava o meu destino ou as escolhas eram legítimas.