quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Gostaria de dizer...

, gostaria de dizer, enquanto há tempo, que não há tempo. Não vejo positividade em nada, aliás, vejo sim, pontos negativos em tudo. O cinza é a cor de todas as coisas e as pessoas vão se pintando de um marrom bosta permanente. Retirei minha fé de todas as esperanças vãs; excluí meu nome das listas de boas festas dos amigos; não respondo nem os bons dias, nem os boas tardes, nem as boas noites, porque não há bons dias, nem boas tardes, nem boas noites.

Iluda-se quem quiser, eu não me iludo, não há futuro, só há essa droga de presente, negativo em tudo, sem perspectivas, repetitivo, povoada de gentinha que acha saber muito e na verdade não sabe de nada. NINGUÉM SABE DE NADA. Eu faço parte desse ninguém, e mais, nem quero passar a saber. Deixem-me em paz, eu não quero saber. 

Cuspo dos meus ouvidos os seus sonhos bestas, as suas alegrias bestas, os seus sorrisos bestas, os seus planejamentos bestas. Cuspo e cuspo outra vez. Esqueça-se de mim. Esqueça-se de todos nós. De vocês todos eu já me esqueci, de vocês, de você, de mim, de todos nós, eu já me esqueci. Já acabou. É finito. Não tem eternidade, não tem continuidade. É negativo. É nulo. 

Era isso.

sábado, 3 de novembro de 2012

Chuva de Finados

A sequidão durou o ano inteiro
Sol rachando a moleira do povo molenga.
Povo ingrato, povo fraco
Povo sem vontade de trabalhar...

- Êpa! Sem vontade de trabalhar, não!
Poetinha metida a besta, botando o nariz onde não lhe corresponde!
Desde quando, desde onde o povo não tem vontade de trabalhar?
O povo trabalha sim e trabalha muito.

Trabalha da madrugada ao deitar do sol,
trabalha um monte e tira pouco,
e ainda recebe esculacho quando reclama.
Pro patrão o povo não pode cansar,
não pode chorar,
não pode resmungar,
não pode sindicalizar
ou vira sem-terra.

Preguiçoso é a senhora puta que lhes pariu
o povo faz é milagre, vive de migalhas
mora onde ninguém mais quer morar,
tira leite de pedras, carne de pedras,
ovos de pedras, mel de pedras
e faz isso com o intuito SÓ de sobreviver.

Porque se fosse para depender
da misericórdia ou da bondade,
ou dos direitos humanos
ou das negociações de paz
ou dos acordos bilaterais
o povo, meu povo, se danava.

Só o que o povo pode esperar é a chuva,
e esta não é governo nenhum que manda,
quem manda é o céu
e este ano o céu fez esperar o ano inteiro
e deixou só para chover nos Finados.

Finados já os rebanhos,
Finadas as plantações,
Finados muitos sonhos,
Finadas rebeliões
por falta de chuva.

Mas o que importa?
O importante é que choveu.