domingo, 24 de julho de 2011

Entre as palavras existem pausas silenciosas

No começo foi a fala aberta
sem pejo
a sinceridade infantil

Depois escolheu melhor as palavras
cortou os palavrões
e os adjetivos bobos

Então passou a selecionar as idéias
adequá-las ao contexto e ao interlocutor
conformou as frases a um público alvo

Chegou à omissão total
de idéias e palavras
adotou o mutismo cedendo à chantagem das opiniões divergentes
pronunciava somente os monossílabos da concordância


Calou-se.







sexta-feira, 22 de julho de 2011

Fiascos do fim do mundo


Naquele dia por acaso resolveram promover o Fim do mundo. Em hora imprópria e sem a pompa dos símbolos bíblicos. Fim de mundo fajuto: sem anjo nem arcanjo tocando trombeta no céu, nenhum dragão de sete cabeças cuspindo pragas do Egito. Esqueceram de fazer nascerem os doze bezerros pintados de ouro com três cabeças cada. Não contrataram a Santa para se vestir de Prostituta e parir um Messiazinho ao avesso para trazer ao mundo os consolos da destruição total. 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Um Zé

De onde vêm os Zés?
Eles vêm de qualquer parte
especialmente de onde ninguém espera que saia um Zé.

Nasce um, nasce dois, nasce três e.... zás
dá de nascer um Zé.

Porém, o Zé é necessário, sem o Zé o país não anda.
Ele é ecológico, ele é econômico, ele é ergométrico, ele é aerodinâmico.
Sem Zé nada funciona.

Matem um Zé e ganhem cem anos de urucubaca.
Case com um Zé e é marido pra vida toda.
Nasça de um Zé e compartilhe do sangue da raça.

Viva o Zé! Sobrevivam os Zés!
Libertem os Zés!

Avante Zé!



(Repostado para comemorar o aniversário de um Zé muito querido)

O mistério da porta fechada


Desde pequena a mãe lhe recomendava que mantivesse a porta da frente fechada. De manhã ou à tarde, na saída ou na entrada, passasse e fechasse a porta. Olhasse pela janela antes de abrir a porta. Pergunte sempre quem é. Nunca diga que está sozinha em casa. Fale que sua mãe está ocupada e não pode atender.

Quem lavava a calçada era a chuva. O lixo era o pai que colocava pra fora quando saía para o serviço. O muro era alto e a menina brincava no quadrado de terra preenchido com plantas ornamentais sem desconfiar do que se passava na rua. A rua era de terra e a camada fina de poeira vermelha assentava nos móveis. A mãe maldizia a poeira e a rua. Gostaria de viver onde não passassem carros.

O sol baixava e a conversa das mulheres sentadas nas calçadas atrapalhava ouvir a televisão. A mãe maldizia as vizinhas e o seu conversar. Gostaria de viver onde não passasse gente.