quarta-feira, 10 de março de 2010

Mulher multiuso: pontos e nós

Vou unir três pontas temáticas em um único nó textual, e fica testemunhado o fato de que eu não deixo pontos sem fazer os nós.

Primeiro ponto. Estamos na semana do Dia Internacional da Mulher. Primeiro nó. Esse texto fala sobre mulheres, veja lá o título "Mulher multiuso". Reparem que na Semana da Mulher os meios de comunicação ficam entre duas pautas clássicas: o elogio ao sexo feminino - sua beleza, a maternidade, a fragilidade (do colo do útero e das mamas, principalmente) e a pauta de denúncia às barbaridades ainda cometidas ao redor do planeta contra as mulheres (mães, filhas e irmãs de todo mundo que são torturadas, mortas, violentadas, abandonadas, usadas como mercadoria e mulas de carga.
 
Segundo ponto. Assisti ao "Sala de Notícias" da TV Futura (graças a Deus inventaram parabólica e internet), que exibiu um programa especial sobre "Os 50 anos da pílula anticoncepcional" (não se desesperem as partidárias da pílula, o Futura reprisa). Segundo nó. Quem estiver interessado em pesquisar sobre a trajetória do contraceptivo oral procure no Google; o nó da minha costura vai nas pontas esfarrapadas do uso da pílula: é um método 99,9% seguro se usado corretamente, dizem (eu acredito) que previne o câncer uterino, PORÉM, pílula não protege contra as DST'S, Doenças Sexualmente Transmissíveis para os (não) íntimos. É isso, mulheres e homens, quem quer se proteger DE FATO deve usar c-a-m-i-s-i-n-h-a. Quem não souber o que é camisinha, ou não souber usar, busque no Google ou em qualquer outro buscador disponível no mercado, ou no posto de saúde mais próximo da tua casa ( o Google não me paga jabá, então eu falo na concorrência mesmo).

Terceiro ponto. O meu entediado parceiro de blog, o Ted, me chamou a meia hora atrás de "Ana multiuso". Terceiro nó, com arremate do epíteto gracioso cedido a mim pelo meu generoso amigo.Não é possível ser mulher sem ser multiuso. O útero foi projetado para gerar filhos, gera também doenças. A pílula foi inventada para tratar a TPM e os problemas da menopausa, é usada como contraceptivo, e serviu para alavancar o feminismo, a liberdade da mulher e a liberação sexual do século XX.

E a MULHER? Mil e uma utilidades. Além de mãe, esposa,  domésticca, operária, agricultora e cientista pode ser: cobaia, mula de carga, saco de pancadas, banco de óvulos, útero de aluguel, matéria prima e moeda de troca do tráfico internacional de escravos brancos.


Este texto foi postado originalmente em outro blog do qual sou parceira, o Não tenho Twitter.

terça-feira, 2 de março de 2010

Poema sem métrica encontrado no fundo da gaveta

Somente Deus sabe a velocidade dos sonhos humanos,
onde se empilham objetos inúteis e deperdiçam-se neurônios.
Ó Deus! De que tecido porco teceste o coração dos homens?
De que má safra colheste estas más sementes? Transgênicos?

Culpa, solidão, abandono.
Tristeza, revolta, fraqueza.
Inveja, egoísmo, vileza.

Não, não... não se engane.

O amor só existe para amenizar o ódio.
E a inocência é a ignorância do pecado.
Por isso, só os inocentes amam e o fazem
pois ignorantes são.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Sobre a brevidade das idéias

Puxei o fio da cabeça (idéias) fora do lugar e do coração acinzentado para tecer algumas observações sobre a duração das idéias, mais especificamente, sua brevidade.

Li ontem uma notícia sobre a idade dos blogueiros desde a invenção deste espetacular espaço de exposição de idéias. No princípio a maioria deles era adolescente, hoje, os adolescentes migraram para as redes sociais em que prevalece a exposição de mensagens curtas, adequadas para quem postará de um celular ou para quem não quer perder tempo digitando textos longos.

"Perder tempo digitando textos longos", aí está uma afirmação com a qual não concordo. Escrever é captar uma idéia e desenvolvê-la primeiro em sua mente, depois transcrevê-la para o suporte de sua preferência. O passo final e mais importante é levar a sua idéia ao conhecimento de outras pessoas, que através da leitura da idéia inicial tecerão as suas próprias idéias. O diálogo entre as idéias pode não ocorrer no mesmo suporte, mas na cabeça do leitor com certeza acontecerá.

A cabeça fora do lugar ( http://naotenhotwitter.blogspot.com/2010/02/mamma-said.html ) me remete a este problema coletivo que precisamos enfrentar. Encontramos um espaço que nos dá voz para expor nossos idéias e confrontá-las com o mundo, mas preferimos abreviar a oportunidade. Substituímos a reflexão pelos anúncios fragmentados de idéias plagiadas, pela descrição de que estamos indo tomar um café na esquina.

Para exemplificar e alongar, pensemos na seguinte situação: brevemente, anuncio em uma rede social que estarei em uma passeata gay na terça feira. Convido a todos para estarem lá também. Onde está a idéia? Eu posso estar indo à passeata gay para jogar ovos, posso estar indo porque sou gay, porque sou simpatizante, porque vou trabalhar dirigindo um  carro-palanque, etc. Quem vai entender? Só quem me conhecer muito bem. Reduzo o meu público e reduzo o alcance da minhas idéias sobre o assunto.

O problema de abreviar o espaço das idéias é que as idéias nunca são curtas, são sempre longas, precisam ser explicadas, reviradas, remexidas até que se façam entender. Em definitivo, estou com o Millôr Fernandes quando ele diz que não escreverá em dez palavras o que ele pode escrever em cem.


Postado originalmente em: http://naotenhotwitter.blogspot.com/2010/02/sobre-brevidade-das-ideias.html

Prólogo "introdutório" e notas explicativas que confundirão a poesia da prosa e prejudicarão a liberdade do leitor em entender o que bem entender

Então, meu não-desprezado amigo Tadeu me convida para ser co-colaboradora (não sou gaga, é neologismo. Será que cheguei primeiro neste vocábulo ou faço um plágio involuntário das invencionices de outra pessoa? Vamos fazer de conta que fui eu quem pariu a idéia) do seu novo blog. Não tenho Twitter.  E eu não tenho mesmo. Mas posso vir a ter.

O que eu quero é esclarecer o quanto me causa admiração (apaguei “pasmo”, se aproximava mais da verdade, mas a verdade é uma coisa meio fora de moda, não acham?) a existência de gente capaz de captar a essência criativa das idéias do meu parceiro de blog. Não digo que ele seja um super gênio criativo que só nasce de mil em mil anos, eu é que ando desanimada com o grande número de bichos pouco-pensantes nascendo por este mundo.

E atendendo a única recomendação dele para me receber como co-colaboradora (!!!) “posta o que quiser e como quiser”, preparei esta singela (adjetivo babaca) postagem.

As causas obscuras e duvidosas - terríveis trocas de favores políticos, perigosas misturas entre o público e o privado - envolvidos neste conluio de mentes fica para o próximo capítulo* desta novela bloguelesca**.

(*) Anúncio enganoso
(**) Brincadeira com “novelesca”
(***) Nota das notas: estas notas são realmente necessárias?

Texto originalmente postado em:  http://naotenhotwitter.blogspot.com/2010/01/prologo-introdutorio-e-notas.html

Rio Pardo

Atravessamos em um domingo à tarde um labirinto de estradas empoeiradas.
Areias vermelhas e mata-burros constantes.
Por quê?
Nos disseram que seguindo o Rio Pardo acima encontraríamos um rio muito diferente do que o conhecido por nós.
Conhecíamos o Rio Pardo curso de água, tímido, escondido entre pedras e propriedades particulares. O rio de lavadeiras

e meninos pescando peixes de três centímetros.
O rio de água barrenta e duvidosa, comprovadamente foco de esquistossomose.
Martirizado e ao mesmo tempo tão necessário.

Encontramos,
um mar de água doce que sumia no horizonte.
Refletia o céu, fazendo a curva no meio da mata e fugia para longe dos nossos olhos.
Decidimos que não era o mesmo rio. Ou era ele em outro estado de desenvolvimento.
Com pesar, dissemos a adeus às águas que nos alimentam
e retornamos pelas estradas de areias vermelhas.