Nossa família retornou ao Nordeste em 1995. Era um sonho antigo alimentado por minha mãe e minha avó. Vó Maria é de Itororó, minha mãe de Cândido Sales, aqui na Bahia. Nossos tios e nossa mãe foram para São Paulo em 1975 porque aqui não possuíam nada, nem terra, nem casa, nem escola, nem raiz. Em São Paulo estudaram mais um pouco, um tantinho só, o que estudou mais terminou o ensino fundamental. Trabalharam muito, receberam não tão muito. Perdemos um tio para a violência paulistana, outro permanece lá, vinte e cinco anos de trabalho e vivendo ainda de aluguel. Mas minha vó e minha mãe desejavam voltar. Voltamos.
Apesar de terem morado lá durante vinte anos, a família nunca deixou de ser nordestina. Pais, tios, vizinhos, ao nosso redor sempre tiveram pernambucanos, paraibanos, baianos, cearenses, ‘nortistas’ no dizer geral. E a gente cresceu assim, ouvindo que baiano é preguiçoso, pernambucano é briguento, paraibana é mulher-macho, cearense é cabra perigoso, os paulistinhas eram metidos a bestas, carioca malandro, mineiro cabreiro. Mas de paulistas no meio, só as crianças.