- É perigoso uma moça tão bonita andar por aí sozinha sem ninguém que a proteja. Precisa de alguma proteção? Uma carona ou talvez um ombro amigo?
Ela aceitou a carona.
Deu a partida e o carro voltou a deslizar pela avenida bem cuidada.
- Eu faço tudo por quem sabe retribuir. Para moças bonitas faço muito mais.
Com o braço direito na direção, Franco pensou que era seu dia de sorte. Discretamente tirou as medidas da moça com o olhar microscópico,
estacionando a inspeção nos lábios. “Será que ela sabe morder? Mulher que não morde é fria, sem mordida não há amor possível”.
A loira tinha um olhar atrevido, um jeito livre e ousado de erguer a cabeça e projetar o perfil e, ao mesmo tempo, uma boca que parecia sempre prestes a
beijar. Quando falava, seus lábios faziam movimentos provocantes e vagamente cínicos. A desenvoltura em aceitar a carona e se insinuar
para um desconhecido não deixaram dúvidas a Franco, tratava-se de uma cobra criada pronta para dar o bote. “As perigosas são as mais atraentes”.
Decidiu deixar a visita ao banco para outro momento.Elisa. Precisava dar atenção à sua mais nova amiga. Evitaria falar sobre as circunstâncias
que a levaram a caminhar errante pelas ruas de um bairro imundo. Possuía ares um tanto vulgares, de gente mal criada e cheia de vontades,
podia ser uma vigarista, talvez, mas não tinha cara de profissional. O corpo bem feito e cuidado seria um cartão de visitas master em qualquer ocasião.
Trataria bem da moça. Conhecia a natureza das mulheres: “A mulher é mercenária. Sem sentir e sem saber, está sempre se vendendo por alguma coisa:
ou posição, ou glória, ou dinheiro.”
Jantariam. Talvez ele comprasse umas sandálias novas para ela.
Um comentário:
Ocorreu-me explicar que as frases entre aspas do pequeno conto são do Nelson Rodrigues.
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