sábado, 10 de abril de 2010

Reflexões educacionais

A educação em nosso país, o Brasil, é deficitária. Conseguimos ‘escolarizar’ os nossos jovens, o que não é o mesmo que educá-los com excelência. Há gente por aí creditando essa deficiência no ensino básico de língua e matemática às escolas públicas, são os mesmos que se posicionam contra a inclusão no ensino superior de alunos da rede pública, afrodescendentes e indígenas. Eu, como educadora graduada em Língua Portuguesa e Literatura por uma instituição pública e estadual, chamo esse tipo de posicionamento de retrógrado, preconceituoso e infundado.
O problema da educação em nosso país não é só econômico – poder pagar uma escola particular ou depender da pública. O problema da educação em nosso país é metodológico, cultural e social, especialmente no que se refere ao ensino da língua.

Metodológico porque os educadores em geral são conservadores, fechados para as inovações sugeridas pelos pesquisadores e pensadores da educação. Ouve-se muito nas conferências sobre o método Paulo Freire, sobre inovação, sobre Piaget, mas na prática, tanto na rede pública quanto na rede privada, o número de educadores realmente capacitados para acolher metodologias novas é pequeno. As mudanças necessárias para fugir do feijão com arroz de “copiar do quadro” e “seguir o livro didático” estão longe de serem oferecidas pelos sistemas educacionais. Inclusive, neste ponto de dar liberdade ao professor de optar pela adoção de metodologias diferentes, a escola pública dá de dez a zero na rede particular. Escola particular é empresa com fim lucrativo, quer resultados imediatos e tem medo de ousar. Com exceção de umas poucas instituições que se propõe a oferecer uma proposta “alternativa”, restaurantes e bares também são capazes de fazer isso, a maioria se repete no inquestionável e inabalável “método tradicional”. Para mostrar uma ponta do que as não tão recentes pesquisas indicam: o estudante para aprender a escrever e ler com fluência não precisa decorar terminologia gramatical. Sujeito, Aposto, Predicado, Advérbio, Transitividade, isso tudo tem mais a ver com filosofia lingüística do que com o ato de escrever em si. Pois é, mas qual é o professor que não obriga sua turma a decorar as classes gramaticais? As questões de concursos estão mudando um pouco a cobrança de terminologias, mas nem todas as empresas adotaram a prática ainda. É perder uma vida escolar inteira para decorar uma coisa inútil.

O problema é cultura e social porque para escrever bem a pessoa precisa ler muito, não só quando está no cursinho ou já passou no vestibular, ela precisa começar a ler ainda na infância. Uma criança vai adquirir o hábito de ler se os pais não abrem nem um jornal em casa? A população não tem poder aquisitivo para comprar livros, aliás, nem para comprar gibis. Dá para escolher entre comprar um revista em quadrinhos e uma dúzia de ovos? Qualquer pai escolherá comprar a dúzia de ovos. A barriga é órgão mais essencial do que os miolos. O ministério da educação manda livros para as bibliotecas, nem sempre os professores fazem bom uso destes "quase" espaços. Nas escolas particulares não estou ciente se estes espaços chegam ao menos ao "quase".

Então, sonhamos com uma educação do futuro, com estudantes leitores e produtores de texto, capazes de argumentar e contra-argumentar, de ler os jornais e saber quando estes estão dizendo verdades ou mentiras. Mas esta educação do futuro ainda está em germe, falta adubar, regar e proteger a fragilidade de suas raízes das ervas daninhas. Para que, no futuro, não precisemos ouvir gente que se diz doutorada e mestrada discriminar os nossos estudantes por uma coisa da qual eles não tem culpa.

Estou certa de que estes estudantes, os discriminados, irão se tornar melhores doutores e mestres do que os que aí estão, porque educação não depende de nascimento ou de status social, depende de dedicação e superação de desafios.

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