sábado, 24 de abril de 2010

Estudos cerebrais


Olhou o cérebro como alguma peça de um maquinário alienígena, e admirou a capacidade do homenzinho saber informar o que lhe contavam as partes daquela engrenagem silenciosa. Admirava mais a capacidade de entender do professor do que a iniciativa de estudar o órgão deslocado de sua função e local de origem. Alice sabia que somente através da linguagem é possível haver comunicação, e a linguagem é formada no cérebro vivo e em funcionamento, um organismo formado por minúsculas células comunicando-se entre si por sinais e códigos. Duvidava já da genialidade de Smith: como ele estudaria a linguagem de um cérebro morto? Forçoso era estudar o organismo em funcionamento para depreender as relações estabelecidas entre as partes constituintes do Todo. O que forma um Todo é a inter-relação entre os constituintes, e não os constituintes somados. O cérebro morto era tão somente uma foto de um único instante da constituição daquele sistema, portanto, insuficiente para compreender toda a complexidade de sua estrutura.

Tudo isto Alice buscou expressar ao professor enquanto o acompanhava à sala de aula, mas não encontrou as palavras exatas. É assim, as palavras são bem poucas para expressar tudo o que passa por nossas cabeças, por isso, a linguagem se utiliza de outros signos não-verbais para completar sua obra. Antes de tentar comunicar as suas impressões sobre aquilo que considerava mais recomendável para um estudo efetivo do funcionamento do cérebro – humano ou animal –, Alice decidiu permanecer com o professor e ler no comportamento dele outros sinais que a ajudassem a compreender em que nível de linguagem deveria se dirigir a ele. Isto, porque sentia que sua primeira tentativa havia sido malograda: não havia em Smith empatia, ele não se interessava por certos fenômenos, tais como a comunicação entre objetos inanimados e pessoas via correspondência datilografada. Não se magoou com o descaso do professor, porque ela própria possuía uma imensa empatia pelos outros e entendia que nem todas as pessoas são plurais em seus interesses como ela era capaz de ser. O que a movia era a curiosidade, deste modo, podia variar entre os estudos da mente e a geração espontânea de caracteres gráficos.

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