segunda-feira, 29 de julho de 2013

Claustro

O mundo nunca foi tão grande quanto se supõe que seja para ela. Havia cercas em toda parte erguidas sob as mais variadas desculpas. A violência das grandes cidades, a marginalidade dos subúrbios paulistanos, a superproteção materna.
Depois teve a timidez, o horror às multidões, a dificuldade em fazer amizades, aliás, a dificuldade em cultivar amizades. Um pequeno príncipe às avessas, jogava sal em todas as raízes fraternais que pudesse perceber. Poucos a cativavam, na verdade, contentava-se com a observação dos outros mantida certa distância mínima de segurança.

Assim, o mundo ia tomando o restrito tamanho das obrigações inadiáveis, estreitado pelas relações sempre evitadas. Duas linhas retas traçadas no chão da cidade resumiriam todo o seu universo de movimento. Não havia, portanto, pessoa mais previsível.

Isso se não levarmos em conta que o mundo é bem maior do que se revela na matéria. Acima do espaço existe o tempo, e nele o tempo psicológico, no qual anos podem ser vivenciados em minutos. Tempo cujo conteúdo não se deixaria resumir por poucas laudas de explicação. E havia o espaço dentro do tempo, aquele capaz de nos levar à toda parte, atrás dos sons e formas insinuadas; imaginação, arriscariam. Pensamento, liberdade, sonho. Itens tão escassos no mundo de hoje, acorrentados pelas ideias preconcebidas apregoadas por todos os meios comunicativos. Mortas a curiosidade e a criatividade do mundo moderno, quem as consegue cultivar em vasos escondidos é dono de inestimável fortuna.

Ela as possuía. Guardava em segredo esses portais para outros mundos dentro de seu silêncio, mesquinha, como sempre, com aquilo que deveria revelar aos outros.

Quem a via, contudo, não podia supor. Deixava transparecer apenas o silêncio mudo, os passos lentos e repetitivos, o ir e vir cronometrado das obrigações cumpridas a contra gosto. Mas, por dentro, ela sabia. O mundo não tinha limites.

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