sábado, 13 de dezembro de 2014

Cratera

   

     A máquina, certo dia, começou a fazer barulhos estranhos. Como se algo dentro dela crescesse e roesse de dentro para fora. Todos na cidade sentiram muito medo de que o maquinário se erguesse do chão e se lançasse com pés e mãos mecânicas contra a população, que até ali sempre havia tratado a máquina com consideração.
      Mas não, ela não se ergueu, nem aprisionou os homens para usá-los como baterias bioquímicas mais tarde. O que ocorreu foi muito pior.
        O solo abaixo da máquina, alterado pelas vibrações constantes das entranhas metálicas, começou a ceder, centímetros e mais centímetros, dia a dia, formando depois de semanas uma enorme cratera que podia ser vista da Lua. E foi vista, segundo consta dos relatórios técnicos de satélites da Nasa.
      A cratera formada chegou, em poucos meses, até o magma da Terra, a despeito de todo o poderio militar que se acumulou em suas bordas, inúteis diante da força maior que por ali agia. Dela jorrou fumaça negra e enxofre por um mês. A nuvem tóxica e malcheirosa sufocou a todos os viventes que não conseguiram comprar máscaras de gás a tempo. Finado o mês, a fumaça cessou. Pelas paredes da cratera foram avistados seres escalando as paredes, eram feitos de puro fogo derretido e metais reluzentes. Mais tarde, foi anunciado que se tratavam dos verdadeiros habitantes do planeta Terra, refugiados há milhares de anos no interior do planeta, que voltavam somente agora para espiar o que acontecia na superfície do seu planeta. 
      Ironicamente, o seu retorno constituíra-se em novo cataclismo cósmico desencadeador de nova extinção das espécies. 
          Exceto a sua.  

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