segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Criação

Para que me criaram, pergunto. Sou obra de algum arquiteto, há propósito na minha preparação  para o mundo, quero saber. Nasci, como dizem, para ser feliz, ou nasci, como dizem, para penar. Tenho liberdade para decidir a que vim, talvez, escolher o que devo ser. Talvez não, posso ter sido criada por acaso, sem razão, fruto de um desejo incerto, largada ao léu, tornei-me o que quis, sem querer, não sei.

Qual seu sonho? perguntou a menininha. Tão inocente, quer saber o que eu sonho, mas eu não sonho, lamento. Realizei todos os meus sonhos, só que cedo demais, sobrou tempo para pensar, devia ter me demorado mais no processo, assim restaria pouco para a apreciação de mim, esta obra, sem arquiteto, sem propósito, despreparada para o mundo.

Perdi os objetivos, aliás, cumpri-lhes. O que me resta? Matar o tempo, matar o tempo, matar o tempo...

E se eu fizer, disser, quiser algo novo, que me dirão? Que não. Devo contentar-me com o realizado, estancar qualquer vontade, estacionar ali e deixar de estúcia.

Obedecerei, é claro, a mim, não a outro, não há outro, hei. Resto-me. Criei-me.

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