Jorge
Amado foi o primeiro escritor baiano com o qual tive contato, li quase
de uma vez dez obras do escritor. Viajei com sua ficção pelos terreiros
de Salvador, a cidade baixa dos pescadores pobres e das meretrizes, pelo
sertão seco do preconceito, pelo coronelismo dos donos das roças de
cacau, de fumo, de cana. Amado mostra o baiano e o mais pobre, simpatiza
com os dois, denuncia o patriarcado e o protecionismo sem se divorciar
deles. Ele é ao mesmo tempo o vate que bebe nas mesas dos rotary clubs e
o vagabundo que cai na sarjeta na beira do cais.
Dizem
da sua obra que Jorge caricatura a mulher baiana, a transforma na
Gabriela e na Tieta objetos. Mas a Tieta não é a puta que manda em
político e a Gabriela não é a mulata que ignora as convenções do
casamento e só quer ser feliz? Sem esquecermos da Tereza, a cansada de
guerra, que sofre tudo de ruim que pode acontecer com uma mulher, mas é
mulher forte e perigosa, dona de si e defensora dos outros, capaz de
ódio e de amor.
Foi
na obra do Jorge que eu aprendi o nome dos santos do candomblé, o
significado de suas cores e o perigo pelo qual seus filhos passaram e
passam, fugindo do cacetete da polícia para professar a sua fé. O
Jubiabá foi meu primeiro grevista, grilagem de terra só tomei
conhecimento nas Terras do Sem Fim. E a história da minha cidade, não é
super parecida com a formação do povoado da Tocaia Grande?
A
safadeza da obra do Amado é escrita e esculpida a safadeza estampada
ainda hoje nas gazetas. São cem anos, não muito longe de nós pela sua
atualidade.
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