Naquele dia por acaso resolveram promover o Fim do mundo. Em
hora imprópria e sem a pompa dos símbolos bíblicos. Fim de mundo fajuto: sem
anjo nem arcanjo tocando trombeta no céu, nenhum dragão de sete cabeças
cuspindo pragas do Egito. Esqueceram de fazer nascerem os doze bezerros
pintados de ouro com três cabeças cada. Não contrataram a Santa para se vestir
de Prostituta e parir um Messiazinho ao avesso para trazer ao mundo os consolos
da destruição total.
Foi um fracasso escandaloso. Cancelaram o Juízo Final por
falta de taquígrafos, condenando-se de vez todos a viver em um mundo que não
acabou, ficou só avariado. As almas que desencarnaram tiveram de reciclar as
carnes porque não havia mais vagas nem no Céu e nem no Inferno e os Serviços de
Atendimento ao Consumidor das outras religiões estavam misteriosamente fora do
ar desde as catorze horas da sexta feira anterior.
Os dirigentes mundiais por motivos só lá deles - uns dizem que
foi complô para não deixar passar em branco o fim das gentes - acionaram ao
mesmo tempo todas as ogivas nucleares conhecidas e desconhecidas a fim de
pulverizar os continentes, contudo, sem sucesso: todos os dispositivos deram de
falhar. O convencimento foi geral, o mundo não iria acabar coisa nenhuma.
O que para o capital especulativo poderia parecer bom, para
os viventes comuns e medianos era péssimo. Acabar o mundo era um direito de todos
e aquela mesquinharia de nem a esse direito terem acesso estava caminhando para
a maior revolução social já vista.
Só não se deu grande mortandade e maior quebra-quebra, pois
havia pouco a se destruir depois dos maremotos e cataclismos com os quais a
Ciência assombrava o planeta há séculos e frações e calharam de não serem invencionices bestas de cientistas sem o que fazer.
“Tu és pó...” virou piada, do pó tiveram de reconstruir tudo
e sem esperanças de um novo fim. É
desanimador esperar pelo fim sabendo que ele não é lá grandes coisas, mas talvez da próxima investissem mais nas circunstâncias do evento e o findar dos tempos finalmente entrasse para os anais da história.
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