segunda-feira, 1 de março de 2010

Sobre a brevidade das idéias

Puxei o fio da cabeça (idéias) fora do lugar e do coração acinzentado para tecer algumas observações sobre a duração das idéias, mais especificamente, sua brevidade.

Li ontem uma notícia sobre a idade dos blogueiros desde a invenção deste espetacular espaço de exposição de idéias. No princípio a maioria deles era adolescente, hoje, os adolescentes migraram para as redes sociais em que prevalece a exposição de mensagens curtas, adequadas para quem postará de um celular ou para quem não quer perder tempo digitando textos longos.

"Perder tempo digitando textos longos", aí está uma afirmação com a qual não concordo. Escrever é captar uma idéia e desenvolvê-la primeiro em sua mente, depois transcrevê-la para o suporte de sua preferência. O passo final e mais importante é levar a sua idéia ao conhecimento de outras pessoas, que através da leitura da idéia inicial tecerão as suas próprias idéias. O diálogo entre as idéias pode não ocorrer no mesmo suporte, mas na cabeça do leitor com certeza acontecerá.

A cabeça fora do lugar ( http://naotenhotwitter.blogspot.com/2010/02/mamma-said.html ) me remete a este problema coletivo que precisamos enfrentar. Encontramos um espaço que nos dá voz para expor nossos idéias e confrontá-las com o mundo, mas preferimos abreviar a oportunidade. Substituímos a reflexão pelos anúncios fragmentados de idéias plagiadas, pela descrição de que estamos indo tomar um café na esquina.

Para exemplificar e alongar, pensemos na seguinte situação: brevemente, anuncio em uma rede social que estarei em uma passeata gay na terça feira. Convido a todos para estarem lá também. Onde está a idéia? Eu posso estar indo à passeata gay para jogar ovos, posso estar indo porque sou gay, porque sou simpatizante, porque vou trabalhar dirigindo um  carro-palanque, etc. Quem vai entender? Só quem me conhecer muito bem. Reduzo o meu público e reduzo o alcance da minhas idéias sobre o assunto.

O problema de abreviar o espaço das idéias é que as idéias nunca são curtas, são sempre longas, precisam ser explicadas, reviradas, remexidas até que se façam entender. Em definitivo, estou com o Millôr Fernandes quando ele diz que não escreverá em dez palavras o que ele pode escrever em cem.


Postado originalmente em: http://naotenhotwitter.blogspot.com/2010/02/sobre-brevidade-das-ideias.html

Nenhum comentário: