quinta-feira, 16 de abril de 2009

Um brinde ao tédio!



Ao tédio, um brinde!

Um amigo muito querido dedica seu blog ao inútil do dia a dia. A inutilidade cotidiana da repetição do obrigatório e do pouco notório. O tédio frente a um mundo que gira em torno do mesmo ralo, entra por ele e sai mais lá na frente renovado em seu lodo indelével. Então, nós dois, que nos acometemos mui frequentemente pelo tédio, sempre nos debruçamos sobre nosso tédio e discutimos sobre as saídas para tal posicionamento diante do mundo. Eu uma entediada apocalíptica resolvo a equação besta deste mundo na imagem de um grande final trágico, esmurro o tédio com minha visão quase utópica de que a destruição total pode nos levar a algum lugar melhor, no mínimo mais interessante. Por misericórdia, seja este pós-mundo menos imbecil do que o atual!

Em minhas prolíferas antevisões destas agitações cósmicas - pura vontade de ver a mudança ocorrer, o ralo exalar perfume de flores depois de destruído, a humanidade renascer aprimorada depois do cataclisma - ou seja, nestas tolices românticas bem típicas dos amantes de uma destruição renovadora, aborda-me o meu entediado parceiro dos ócios criativos, e faz-me pensar que deveria o mundo inteiro ser dedicado aos momentos de ócio, pois é neles que fugimos da reme-reme teleguiado do dia-a-dia e nos lançamos aos mares imprevistos da invenção e do delírio.

O ócio e o tédio só acometem aqueles capazes de erguer a cabeça do esgoto dos dias, olhar para o céu encoberto pela poluição e dizer: "Cara, esta vida é um saco!" Não porque está sem dinheiro, porque está sozinho, porque não tem nada para fazer, porque tem trabalho demais para fazer, porque o par romântico está mais para parceiro de pôker, porque o imposto de renda consome tudo.... dizemos porque é verdade! Verdade dolorosa, depois de dita não muda em nada a situação mas prova que não perdemos tempo a dar cores bonitas ao cinza preto e branco do igual ao de sempre.
Inquietem-se com a igualdade dos dias! Enfureçam-se com o ligeiro passar das horas! Quebrem as correntes dos pensamentos prontos!Entediem-se e movimentem-se! Achando a vida uma chatice é que nos reviramos para viver dias menos chatos!

Um brinde aos companheiros do tédio.


(imagem: Paranoic Visage, Salvador Dalí)

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