domingo, 7 de abril de 2013

Genealogia

Eu sou filha de Zenilda
que é filha de Maria,
que é filha de Almerinda
que não soube de quem é.

Nessa sina de enzicas
Das três só uma foi rica
Até casar com um bode
que cheirava rapé.

Só maridos,
Almerinda enterrou um,
Maria enterrou dois,
Zenilda enterrou três.

De filhos foram mais covas,
que a fome é muita,
a água é pouca,
a terra é dos outros,
o dinheiro é dos homens.

Mas a Graça, essa é de Deus.

Miro-me em seus espelhos
de escassez e precisão,
por isso não fio a homem,
não empresto a mulher,
não crio filho dos outros,
Toco a vida como Deus quer.

Quando quero dar a entender aos burros
eu bato na cangaia, e se meu cavalo cansa
eu o deixo descansar.

Do meu homem eu ando atrás,
pois no meu sistema de frete,
a carga vai amarrada na frente,
pra detrás eu ditar o norte.

Sou assim e não me aprumo
Não ando em estrada sem rumo
Eu olho onde amarro meu jegue,
pra depois não me arreliar.

Pois sou filha de Zenilda de Maria de Almerinda
Não aceito nome de linda, nem de flor, nem de cheiro
Faço as contas e mando às favas,
Amarro as minhas trouxas e pego a estrada,
Sou mulher pra ver o mundo inteiro.


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