sábado, 3 de novembro de 2012

Chuva de Finados

A sequidão durou o ano inteiro
Sol rachando a moleira do povo molenga.
Povo ingrato, povo fraco
Povo sem vontade de trabalhar...

- Êpa! Sem vontade de trabalhar, não!
Poetinha metida a besta, botando o nariz onde não lhe corresponde!
Desde quando, desde onde o povo não tem vontade de trabalhar?
O povo trabalha sim e trabalha muito.

Trabalha da madrugada ao deitar do sol,
trabalha um monte e tira pouco,
e ainda recebe esculacho quando reclama.
Pro patrão o povo não pode cansar,
não pode chorar,
não pode resmungar,
não pode sindicalizar
ou vira sem-terra.

Preguiçoso é a senhora puta que lhes pariu
o povo faz é milagre, vive de migalhas
mora onde ninguém mais quer morar,
tira leite de pedras, carne de pedras,
ovos de pedras, mel de pedras
e faz isso com o intuito SÓ de sobreviver.

Porque se fosse para depender
da misericórdia ou da bondade,
ou dos direitos humanos
ou das negociações de paz
ou dos acordos bilaterais
o povo, meu povo, se danava.

Só o que o povo pode esperar é a chuva,
e esta não é governo nenhum que manda,
quem manda é o céu
e este ano o céu fez esperar o ano inteiro
e deixou só para chover nos Finados.

Finados já os rebanhos,
Finadas as plantações,
Finados muitos sonhos,
Finadas rebeliões
por falta de chuva.

Mas o que importa?
O importante é que choveu.

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