
Miseravelmente nos arrastamos por esta vida, tentando ser bons, tentando ser notados, tentando agradar, tentando fazer a diferença. Depois de muito tentar sem nunca obter exatamente o que desejávamos ou obtendo e descobrindo que não era nada daquilo que esperávamos, então aprendemos a nos contentar com o pouco que alcançamos.
É sempre pouco perto do que poderia ser, mas é muito em comparação à maioria dos demais que padecem da vida. Porque também o momento da morte é o momento em que os que ficam pesam todos os nossos feitos. Qualquer coitado é invejado depois de morto, não por estar morto, mas porque contrastada à imobilidade da morte, qualquer atividade em vida parece muito boa. A verdade é que depois de mortos, tudo o que conquistamos ganha maior importância, nossos defeitos são perdoados, nossos feitos valorizados. É depois de mortos que percebemos que afinal, valíamos alguma coisa. Ainda valeremos no além-vida?
Não é importante, pois para onde vamos o valor não vale nada. Só o que vale é a nossa memória que fica para os que nos conheceram. Fui uma boa mãe, filha, esposa, amiga, vizinha. Vou fazer falta? Guardarão retratos meus? Alguém dirá: “Na época da falecida eu era feliz?” Vão continuar rindo das minhas piadas?
Uma coisa é certa, depois que nos formos, sobrará mais espaço no mundo para os que estão vindo e os que já estão por aí aglomerados.
Talvez a matéria desta crônica soe muito mórbida, e não poderia surtir outro feito, afinal, estamos falando sobre a morte. Desejo apenas que todos admitam: as despedidas são sempre ternas pois os que nelas se reúnem prefeririam que ficássemos e precisam se apegar às nossas virtudes. Estivessem reunidos nossos desafetos, chegariam rapidamente à conclusão de que demoramos tempo demais para passar a vez da existência.
Enfim, nossa vez não veio ainda, ainda há tempo de nos ocuparmos em deixar boas memórias aos nossos futuros ex companheiros nesta viagem terrena até a viagem definitiva.
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