Havia uma árvore grande
e velha. Havia uma estrada empoeirada. Havia estrelas no céu. Mas esta não é
uma história sobre árvores, estradas ou estrelas. A história é sobre uma moça
sem nome. Não conto o nome da moça pela mesma razão que não dou a espécie da
árvore ou o código da estrada e não digo as constelações formadas pelas
estrelas: para generalizar. Essa história aconteceu em qualquer lugar ou
poderia acontecer, quem sabe até acontecerá realmente, isso ninguém pode negar.
A noite estava negra
como costumam ser todas as noites e a estrada mal iluminada como nem todas são.
A moça caminhava sozinha e parou junto da árvore para descansar. Era Natal, mas
nenhuma das duas se lembrava disto. Nem a moça, nem a árvore. A árvore, talvez
porque ninguém a tivesse explicado sobre a existência da festa. A moça, porque
outras coisas lhe ocupavam a mente.
Naquela manhã a moça
saiu de casa cedo para ir ao mercado. Comprou ingredientes para um jantar
especial. Mais tarde, na manicure, riu com as amigas. Conforme se aproximava a
noite aumentava a sua expectativa. Voltou cedo para casa e cozinhou. Depois
vestiu a roupa nova e foi para a sala esperar.
No intervalo entre
cozinhar e se vestir o seu celular recebeu 25 mensagens de textos enviadas por
seus amigos para felicitá-la pelo Natal. Na sua caixa de correios estavam cinco
cartões natalícios enviados pelo comércio. Mas já era tarde e o seu companheiro
não chegava. Obviamente ele teria ótimas desculpas para o atraso, pensava.
Então o telefone tocou.
Ela atendeu e recebeu a notícia. Daquelas que chegam sempre depressa ou tarde
demais. Precisava ir ao hospital com urgência e foi. Saiu com o carro no meio
da noite para procurar o hospital onde estava seu companheiro. Os faróis se
multiplicavam pelo caminho, até o ponto em que pararam de se multiplicar,
simplesmente deixaram de sinalizar, porque o trânsito era uma massa só de
carros parados tentando passar e levar pessoas para a ceia de natal em algum
lugar. Não havia esperança de que o trânsito andasse tão cedo, dizia o rádio do
carro.
Talvez, somente talvez,
ela tivesse uma chance de chegar a seu destino. Atravessaria o bosque que
dividia aquela via de outra, da outra pegaria um táxi ou ônibus. E assim ela
fez, mas se arrependeu. O bosque era maior do que pensava. Mais escuro, mais
silencioso e menos plano. Mesmo assim continuou, porque poderia já ter chegado
ao meio, e como todos sabem, do meio não se volta. Ao sair do bosque estava
suja, cansada e aliviada por não ter se perdido ou quebrado uma perna.
Infelizmente, a outra via não passava de uma estrada de chão sem sinalização.
Decidiu seguir por ela, pois não suportaria voltar ao bosque. Se não há lógica
em voltar do meio pro início, muito menos haveria em voltar do fim ao começo.
Assim ela continuou
andando, pés doendo, coração aos saltos, procurando pela estrada na qual
desembocaria a estrada pela qual ia.
E encontrou a árvore.
E nenhuma das duas se
lembrava de que era Natal.