Em nenhum lugar Sissi jamais encontrou segurança. Desde pequena conseguia ouvir os ruídos ameaçadores das árvores e suas sombras em formas de garras e mãos. De qualquer sombra saltava um espanto, boca escancarada para devorar. Sozinha, sofria o desamparo. Acompanhada, sofria a exposição. Uma multidão mostrava-se tão perigosa quanto um deserto. Não existia paz em parte alguma, por onde quer que andasse, o medo a acompanhava guardado nas entranhas, aguardando um momento de vulnerabilidade para escorrer para fora e atacar.
Precisava ocupar a mente e as mãos, desligar-se daquela natureza sensível às mudanças da lua, que enxergava maus presságios em todas as partes.
Se ela gostaria de se sentir segura? Não havia nada que desejasse mais na vida.
Sissi não temia as pessoas por qualquer razão, temia por saber que as outras pessoas também hospedavam a mandíbula perfurante do medo dentro de suas almas, umas a liberavam em ocasiões comuns a todos, outras, como Sissi, não possuíam controle, deixavam-se dominar e enfraquecer, faziam-se instrumento de uma força muito superior à compreensão, perigosas em seus extremos de covardia. Os covardes estão sujeitos a atos desesperados e impensáveis aos que possuem alguma coragem. Toda a sua energia concentrada em não sucumbir às próprias fraquezas, precisava de um exterior que lhe passasse o mínimo de elementos para resguardar algum auto-controle. Trancas grandes nas portas, cercas elétricas, alarmes, morar em um bairro com um bom patrulhamento policial, pagar um seguro de saúde excelente, andar com spray de pimenta na bolsa, qualquer subterfúgio que ajudasse a criar uma imagem de segurança. Imagem, porque seguros nós nunca estamos.